É PRECISO SABER VIVER!!!

“Se fosse fácil achar o caminho das pedras, tantas pedras no caminho não seria ruim”. Inicio a crônica parafraseando os maiores operários da vida, popularmente conhecidos como Engenheiros do Hawaii. Se eles chegarem a ler esse texto, certamente se sentirão frustados, pois o nome dado a banda foi justamente com o intuito oposto do que faço aqui, que é elevá-los a posição de sacerdotes.

São em dias como esses em que sinto a usura de encontrar-me com Humberto Gessinger e questioná-lo sobre o real sentido da vida. Se a música pode ser transliterada como canal de benção de Deus na terra, muito se explica o fato de um estudante de arquitetura ter abandonado o terreno de desenho de edificações para se converter em um servidor da música que chegou a abrir um show do Nirvana em 1993.

A partir desse exemplo, consigo vislumbrar um questionamento que sempre ecoou em minha mente. Seguimos um destino pré determinado ou somos capazes de construir o nosso próprio destino? Quer dizer, para o Humberto a vida parece ter valido a pena e ter feito sentido a partir do momento em que a sua banda surgiu. Mas e para um músico nato que sempre transitou no cenário musical, porém sem sucesso, teve que render-se a um trabalho no setor administrativo, a vida é causa perdida?

Ás vezes, sinto uma imensa vontade de desistir dela. Não, essa não é uma das fitas cassetes do seriado ’13 Reasons Why’, porque eu nunca tive a intenção de cometer o autocídio. E outra: a própria vida parece não querer desistir de mim até a morte. Na mesma rota em que encontrei vários ‘nãos’ escritos em placas bem grandes, na estrada, mais adiante, consegui enxergar indistintamente alguns ‘sins’. Se ninguém encontra o seu próprio caminho sem se perder inúmeras vezes, então devo estar no caminho certo.

Talvez devido à cegueira moral apresentada por Saramago que nos aliena em nós mesmos e que faz com que não possamos nos dar conta de que respiramos em média de 12 a 20 vezes por minuto, perdemos a chance de enxergar a grandeza da vida. Se de fato já estivemos aqui em outros tempos, não nos lembramos. Resta-nos então a opção de deter a nossa curiosidade mórbida em buscar um único significado para nossa existência.

Na maioria das vezes, a vida é mesmo contraditória. E não espere se acostumar com ela. Há quem acredite que a ordem é essa: primeiro a chuva, depois o arco-íris. Em um dia, nos vemos despreocupados em uma viagem de férias. No amanhecer posterior, sofremos a perda de um ente querido. O que a vida exige? Mudança de planos. De novo. Primeiro se recupere da situação de crise e aprenda com ela. Depois cresça. É essa a recompensa que a vida nós dá, crescer?

Quando criança, era completamente averso ao sono. Primeiro por pavor a ambientes escuros. Segundo: morria de medo também de perder a diversão da vida enquanto mergulhava em transe profundo por oito horas seguidas. Hoje, adulto, eu durmo para evitar a vida. Mas não por muito tempo, pois nosso mal é esse: achar que temos tempo. Me desespero só em pensar do tanto a fazer e do pouco que tenho feito do que realmente amo, pois isso significa que estou desperdiçando o tal do tempo.

É verdade! E a vida é nossa. Somente nossa. Outras pessoas poderão caminhar conosco, mas ninguém poderá trilhar o nosso caminho por nós. Tampouco existe um elevador que nós levará do piso térreo direto ao terraço do sucesso. Teremos que usar os degraus das escadas para chegarmos lá. Um por um. Bem aventurados aqueles que são claustrofóbicos, pois devem ter compreendido isso muito antes de mim.

Da série ‘indiretas do bem’, aqui vai mais uma: se você não aprecia a situação em que se encontra agora, mova-se. Afinal de contas, você não é uma árvore. A carapuça tanto me serve que só esse ano perdi a conta das vezes em que (me) mudei. Outra coisa é certa: descobri que sou um balão cheio de sentimentos em um mundo repleto de alfinetes, e que sei por onde começar meu vôo, mas nunca aonde irei parar, pois dependo do sentido do vento da vida.