Fidelidade

Sou uma pessoa fiel. Aos amigos, família, dentista, médico, mecânico, farmácia, supermercado, trajetos para meus destinos rotineiros, escovas de dente...

Há semanas comprei a escova nova, pois sigo as instruções da dentista, quanto ao seu tempo de uso, mas não consigo me desfazer da antiga. Sempre que me aproximo da pia do banheiro, lá está ela, lépida e feliz, pronta para entrar em ação e desincumbir-se da sua tarefa. Já conhece todos os cantos mais difíceis, onde a gengiva é mais sensível.

E, quando abro a gaveta, lá está a radiante escova nova, olhando-me presunçosa, como quê dizendo: “Vamos lá. O tempo da outra já foi. Abre-te para as novas experiências. Essa coisa de fidelidade é bobagem. Experimenta... Experimenta...”.

Sentimentalismo de lado, para o bem de meus dentes, que já não serão substituídos, atendo ao bom senso, abro a embalagem, mostro à nova, a antiga, para que aquela veja como estará dentro de algum tempo e deixe de lado tanta presunção e se limite a desincumbir-se como esperado, de suas funções.

Para que a antiga não se sinta completamente posta de lado, deixo-a ficar ainda, por algum tempo, junto à nova. Trocarão experiências e acabarão amigas. A antiga, cedendo lugar à nova, sabendo que logo a história se repetirá, passando para esta o lugar que ocupa agora.

Interessante. Acabei de fazer uma analogia... Será que Freud explica?

17/08/2007