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A sombra se desvanecia no chão, conta-me a intenção de um alguém em sentar bem atrás de mim. Ah, não. O calor. Há gente ao lado, professor já farto à frente, com o cansaço despejado pelo birô, mas agora haverá de ter também gente atrás. Senta e o calor expande. Viro claustrofóbica de súbito. Todas essas existências tão próximas, amontoadas em si e nos outros. O que já era em demasia, transborda, um horror impertinente. É preciso espaço, e um tanto. Tateio os sulcos das minhas bochechas e sinto a pele exausta, quente de existir. A vertigem me atinge, mistura-se com o ardor que também já havia inconvenientemente sido colocado junto a outros. Tudo passa a vibrar em um ritmo enjoativo, nauseante. Incandescente, a cor da tinta no papel me importuna como nunca antes; é de um rosa que me lembra fervura, logo tudo fica ainda mais quente. O falatório progride, esse de longe e de perto. À frente, ao lado, tudo se torna ainda mais importuno. O calor, mais pegajoso. Sem vez, todos sentenciados à multidão, à demasia. Os nadas, os vazios, os ninguéns, chocam-se e juntos são o que há de mais excessivo. Há muito no zero.