Verdes Campos
Enquanto caminhava pelos verdes campos do meu amado Monte Alegre, eis que me veio uma ociosa curiosidade e com ela a descoberta de que eles escondem uma terra vermelho feito vinho, e úmida como o porão de minhas reminiscências. Essa tal curiosidade fez-me pensar de como a sua invólucra superfície é banhada por um sol milenar de raios fúlvidos e multicor em sua magnificência.

Aquele Imperador florescente que me queima a pele, introduzindo raios ultravioletas em meus poros, é o mesmo que paira sobre a pradaria colibri e sua libido de fotossíntese germina a terra. A mesma terra que agora escorre por entre os meus dedos, é fértil e forte como um touro, ela suporta, em sua crosta, o peso do mundo e o meu e, no entanto faz brotar de suas vísceras milhos de mandioca e batata aipim para a composição das deliciosas guloseimas genuinamente sergipanas da avó.

Ali, meio que boquiaberto vislumbro o cair das gotas de orvalho cristalino amalgamados em nuvens de algodão a saldarem a inércia do alvorecer, e me ponho a observar amiúde o firmamento. Vejo com nitidez que ele traz espetado em sua constelação estrelas de muitas noites e eras, elas bailam feito acrobatas nos palcos do tempo.

E sendo deslumbrantes os seus pastos, todavia é palma da mão desta atilosa senhora natureza, e são visíveis a ponto de ficar fotografada na minha retina, a relva inebriante que torna adipe os bovinos. Enquanto nos lamaçais os adiposos suínos degustam de sua imundice, as galinhas correm saltitantes pelas capoeiras que são caipiras, antagônicas as pessoas, essas tem a alma leve e o corpo quente.

É neste pedacinho de chão, nesta terra de “loucos” feito eu, que não ingerem tarja preta, mas proliferam poesias, existe um imensurável mar de areia e serras de raspaduras, as quais mesmo molhadas pela chuva de prata são rochas de um “doce” amor. É aqui neste cantinho denominado sertão que vejo o beijar flor planar no ar para degustar do nécta da margarida, e em seguida veranear com a andorinha dos jardins de ária lado á lado com o carcará que flutua com asas de Ícaro. Então conclui que esse esplêndido Monte de Poetas Alegres e ávidas Poetisas são o habitat da neologia, que trás a certeza de que a vida pode ser vivida por meio das palavras e reinventar sonhos, transformando em lírica a bruta realidade.
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 15/09/2017
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