Nem Sísifo nem Prometeu, apenas Professor!

O domingo à noite já me prenuncia a chegada da nova semana. Claro, ela não vai ser fácil. E por que deveria ser? Então começo a organizar meu material, olhar meu horário e ... de repente uma notícia me faz parar tudo: “Presidente é acusado pela segunda vez! ”. Paraliso e reflito. “O que vou dizer para meus alunos amanhã? Como vou persuadi-los a lutar por um futuro, por meio da Educação? Que estratégia utilizar para que façam uma dissertação e, ainda, que apresentem propostas de intervenção social a qual, além de mostrarem uma consciência dos problemas de seu meio, também sejam capazes de respeitar os direitos humanos? ” Direitos humanos: não sei qual das duas palavras está mais distante das ações dos governantes. Sinto-me impotente!

Não, não consigo ter forças para preparar meu material para o dia seguinte. Professor também desanima, também tem seus limites. Talvez essa revelação assuste aqueles que não estão, a cada dia, frente a frente, com adolescentes carregados de sonhos, preparando-se para atuar em um país que deixa velado o conceito de atitudes éticas. Nesse cenário, ainda temos mais um agravante, alunos e professores que parecem correr para um desígnio que eles próprios desconhecem.

Professores almejam o sucesso de seus alunos. Estes visam ao êxito determinado pelos pais que depositam em seus filhos todos os propósitos que não conseguiram alcançar. Nessa sucessão de buscas, cada qual cumpre o papel que o outro quer. E o que cada um quer? E o cada um deseja? Como cada um se realiza? Com a realização do próximo? Calma, não sou egoísta tampouco ausente de sentimento de empatia. Apenas questiono as razões da busca de nossos objetivos.

Olho meus alunos, muitos deles desanimados, outros perdidos, alguns com sinais iminentes de depressão. Pergunto-me qual meu papel diante desse cenário? Restringir-me à escolarização? Como entrar em uma sala de aula e não me colocar na posição desses alunos do século XXI? As cobranças de um resultado exemplar vêm tanto de seus mestres como da família. Cada um destes com seus justos argumentos. Ensino todos os dias, corrijo as lições, tiro as dúvidas; da outra parte, pago escola, só tem a obrigação de estudar, não faz mais nada. Somado a essas falas, um cenário político moralmente combalido.

Então o jovem que não gosta de matemática precisa buscar uma razão para encontrar o X que parece fugir do caminho dele; o que não gosta de história precisa entender por que países entram em guerra por um pedaço de território; aquele que não é adepto à física tenta calcular a velocidade de um carro do qual o de seu pai tão automaticamente o faz; o jovenzinho que não gosta de língua portuguesa precisa, de alguma forma, encontrar um momento em que empregará o tu que não cabe em seu dia a dia.

É indubitável que estou exagerando assim como generalizando. Entretanto, questiono-me, todos os dias, como, nós, professores, pais, escola como um todo podemos trazer o encanto para nossos adolescentes. Como fasciná-los quando assistimos aos noticiários que determinado ministro é suspeito de roubar cinquenta e um milhões de reais? Que um tal ex-governador arruinou um estado?

Então vamos caminhando de domingo a domingo, de notícias frustrantes a descobertas assustadoras, de desejos alheios em detrimento aos próprios desejos, com o único objetivo de alcançar uma pseudovitória, em um cenário de crise que parece nos vencer. No entanto, como professores frente a adolescentes, que representam o futuro desta nação, temos que fazer nossas escolhas.

Teremos que decidir se deixamos nos transformar em Sísifo e vamos, diariamente, sob a árdua tarefa, apenas rolar nossas pedras sem objetivo algum, permitindo-nos que suguem nossas forças e vivacidade de transformar essa realidade; ou, simplesmente, transformamo-nos em Prometeu para enfrentar os Zeus contemporâneos e, embora possam nos acorrentar, certamente, teremos forças para suportar e regenerar nossa alma impávida para defender a humanidade.

Nesse embate, o que conta é resgatar o valor da Educação para nossos jovens e dar-lhes o caminho para, também, transformar gerações. Façamos jus à fala de Paulo Freire de que a educação não transforma sociedades, mas pessoas que decerto as transformarão. A verdade é que para os que querem fazer a diferença em seu meio, o trajeto é árduo, mas o legado é exímio. Penso que é para isso que passamos por este mundo, mesmo a profissão parecendo tão complicada, para marcar vidas e fazer a diferença onde fomos colocados. Da mesma forma, resgatar a questão da ética, assim como reiterar que os valores da moralidade nunca serão atitudes retrógradas nem ofuscadas pela imoralidade. Defender esses ideais é tarefa sim do professor, da família e da sociedade, mesmo que esta esteja abalada.

Perillo
Enviado por Perillo em 08/10/2017
Reeditado em 04/12/2017
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