Esperando o Transporte

A calçada era irregular, meu coração era irregular, minhas trêmulas pernas eram irregular. O ônibus não parou para mim, garotos já me tinham desreipeitado naquela manhã, como em todas manhãs. Andar é preciso, mas não era preciso o meu andar, a bengala minha amiga me avisa uma depressão que meus olhos já não veem, estou cansado, procuro um banco na praça, está sob sol mas é o único, me sento.

O Que é e o que será da minha curta vida futura?

Meus grandes amigos já se foram, agora tenho mais saudades que futuro, não sei o que é perspectiva, em casa me tratam como um troço qualquer, não tenho mais o apoio de minha amada, também se foi, ando irritado, minhas dores são minhas, nimguém se importa, e todos querem que eu faça fisicamente coisas que eles podem, ande ligeiro, suba depressa no ônibus, corra para alcançar. Eu tento mais o corpo não obedeçe.

Sentado ao sol escaldante de 10 horas, na praça dos Martírios, comtemplo o Palácio velho do Governo, já estive lá muitas vezes, lembro das calçadas, ruas, praças, bares, cinemas e da minha gente ao meu redor, das noitadas alegres, do meu trabalho, tudo passou, eu passei, sou um intruso dentro daquilo que tanto lutei para construir.

Estão vendo esta praça, o sistema telefônico, as linhas de ônibus, a criação de escolas e grupos escolares, o novo mundo? Eu contribui e muito, mas não para usufruir, foi para voces. E eu tenho que correr para acompanhar porque simplesmente não tens coração e sentimento, gratidão e humanidade que prestar uma justa homenagem a quem gastou toda sua força, sua vista, sua saúde, suas férias, tentando fazer e construir um país melhor e mais justo.

Aos velhos despresados e ignorados nos lares, nos abrigos, nas casas de repouso etc. que só esperam que o transporte celeste os levem para longe do lugar que um dia foi seu. Para um lugar em que possamos reencontrar as ruas, os cinemas, as praças, os bares e os velhos e insubstituíveis amigos e amores.