Memória e responsabilidade

Sou fã do saudoso escritor português José Saramago. Li toda sua obra. Seria um mentiroso se dissesse que gostei de todos os seus livros. Não, confesso, de alguns não gostei. Mas todos, indiscutivelmente, têm a marca registrada da genialidade do grande escritor(o melhor romance dele é, sem dúvida, "Memorial do Covento"). Que, além de escritor fora de série, era também uma excelente figura humana solidária e fraterna e grande Combatente da Liberdade, sempre defendendo os oprimidos de todos os recantos do mundo.

Hoje recebi um postal (ainda existe) de um amigo que está visitando Portugal e nesse "cartão" (ele sabe que coleciono esses postais) escreveu uma frase de Saramago que acho perfeita: "Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos, sem essa memória não existimos, e sem responsabilidade talvez não mereçamos exisitir".

Sei não, mas assim que li no postal essa frase de Saramago, achei que ela tm tudo a ver com a nossa situação, principalmente quando ele fala em responsabilidade. Será que inertes, omissos, acovardados, acomodados, assistindo de braços cruzados a essa situaação aviltante, vexatória e desmoralizante nós merecemos mesmo existir?

Parece que esses postal chegou num momento errado, em que estou jururu, desapontando, num desalento da gota serena, constatando que as pessoas estão, pasmem, até achando que podia ser pior, com medo de tudo, evitando falar mal dos graúdos e metidos a graúdos, preferindo a auto-ajuda, o fundamentalismo e qualquer tipo de festa e ilusão. Mais: achando que tudo é imoral, apoiando o obscurantismo, a censura, a inquisição nas artes. Nesses dias vão achar absolutamente normal a volta dos pedintes de esmola em grande escala (já começou). Falar a verdade voltou a ser imoral. Nada como lembrar outra frase de Sarmago: "Imoral é a fome"

Por fim estpou notando que está despontando no horizonte uma certa nostalgia suicida dos tempos da ditadura. Ah, Brasil. Inté.