A Paixão da Minha Vida

Durante anos da minha vida achei que ela não fosse real. Passei muito tempo achando que ela existia apenas nos livros, e na realidade não passava de uma utopia. Até o dia em que a encontrei em um simples restaurante no centro da cidade.

Ela estava linda! Ainda consigo me lembrar de tê-la visto sentada elegantemente, usando um belo vestido rimado, que se moldava suavemente às suas curvas versadas. O mero fato de vê-la fazia brotar um sorriso besta em meu rosto.

Nos conhecemos naquele bar e ali nos apaixonamos. Sobre um velho piso quadriculado, o que era apenas sonho tornou-se realidade concreta. Aquele pensamento de que jamais a encontraria, ruiu no momento em que nos conhecemos.

Passamos a noite toda devaneando, rindo e brindando. Ao findar daquele momento peguei seu endereço, e então ela saiu. O ritmo em que ela andava uniu-se musicalmente ao jazz que tocava ao fundo. Ela me deixou, mas havia marcado o próximo encontro.

Após degustar aquela noite memorável, tomei o metrô com destino à minha casa. No meio do caminho, a reencontrei no vagão em que eu estava. Conversamos apaixonadamente até minha estação. Nos despedimos de novo, e tive a grata surpresa de vê-la mais uma vez no ônibus que peguei. Conversamos mais alguns minutos e um afetuoso “boa noite” pôs fim aos nossos encontros e desencontros.

No outro dia, assustei-me ao vê-la me acordando pela manhã. Não me lembrava de ter dormido com ela, mas não me importei. Dei-lhe um beijo e um abraço e fui trabalhar.

Chegando ao escritório, lá estava ela, me esperando, sentada ao lado da minha cadeira. Passamos a tarde toda trabalhando juntinhos. Foi assim por semanas. Até o dia em que resolvemos oficializar nossa relação. Nos casamos na praia, o sol foi nosso padrinho, e a lua nossa testemunha. Os passarinhos fizeram à capela a trilha sonora do nosso matrimônio.

Juntos rodamos o mundo sem nem sair de casa. Conhecemos reis e rainhas, duques e czares. Ao lado dela assumi papel divino e criamos nosso próprio universo. Pintamos o céu de outra cor e mudamos o curso dos rios. Intensificamos o sabor da felicidade e demos sentido à tristeza. Logo percebi que havia ancorado meu coração no cais de sua rotina e de seus hábitos. Estava falando e pensando como ela, meu linguajar já estava possuído por suas regras e métricas.

Em todos os lugares que olhava, lá estava ela. Esteve presente no ápice de minha alegria e me consolou poeticamente na angústia do meu sofrer. Ela havia passado a me seguir.

Eu a apresentei à minha esposa, meus filhos e meus pais. Todos a amavam. Meus amigos a invejavam. Quem me conhecia sabia que onde eu estava, lá estava ela a me acompanhar.

Depois de tantos anos, ainda me recordo daquela inesquecível noite no bar, de seu vestido rimado e suas curvas versadas. Depois de tantos anos, ainda consigo dizer que a Poesia tem sido minha companheira e a paixão da minha vida.