TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO

Com a chegada do horário de verão, pelo 32º ano consecutivo, surge também uma ilusão: sessenta minutos extras da luz do dia após a jornada do trabalho. Isso, claro, para os trabalhadores que finalizam seus expedientes as seis da tarde. No início de cada dia, contudo, contamos com uma hora de luz a menos. E de sono, pois nos despertamos uma hora antes do que acordaríamos no horário convencional. E claro, de descanso, pois iniciamos as rotinas de trabalho mais cedo. Mas será que temos esse tempo para perder?

A vida não para. Pelo menos é essa a sensação que sustentamos no mundo contemporâneo. Digo sensação, porque ela está diretamente atrelada aos nossos sentidos com a noção que mantemos dos eventos no decorrer dos dias. Com certeza, você já notou que em certos dias alguns acontecimentos parecem transcorrer de forma rápida, enquanto que em outros, os mesmos acontecimentos ocorrem de maneira muito mais lenta. O tempo, porém, mantém-se ali, na sua, apenas medindo essa transição, independente de qual seja o dia que estamos enfrentando.

E eu sinto pena do tempo. Quanto dilemas não colocamos em sua mãos? Encarregamos o tempo de solucionar questões que nos afligem sem com isso tomar qualquer outra atitude. Sempre desconfiei que esse negócio de transferir ao tempo a responsabilidade por nossas escolhas e possíveis eventos decorrentes delas fosse um engano substancial. Afinal de contas, se o tempo realmente curasse tudo, na farmácia só se venderia relógio, e não remédio.

A dor passa? Com remédio, talvez. Com o tempo? Não. Algumas dores cicatrizam depois de um certo período, mas em dias encobertos elas podem tornar a pulsar. Na verdade, a maioria das feridas requer certo cuidado. Se simplesmente encarregamos o tempo de cuidar delas, apenas adiamos o inadiável, pois quanto maior o dano, mais profundo é o corte. É, Band-Aids não cobrem buracos de bala.

E se eu optar em perdoar? O tempo suscita questionamentos muitas vezes irrespondíveis. Há quem diga que o tempo realmente cure tudo, menos aqueles instantes que você perde esperando que ele cure tudo o que você teria ganho se não tivesse esperado tanto. Outros, a meu ver, são mais honestos acreditando que ele nada cura. Eficaz mesmo é mudar nossa postura perante as situações e cessar a espera por respostas que subjetivamente em outro momento já foram respondidas.

Quer ver? “Se você não ama o que faz, está perdendo seu tempo”. Essa frase célebre divulgada na rede mundial de computadores, esclarece uma das maiores indagações dos internautas sem fazê-los esperar muito. O que estou fazendo com a minha vida? Ainda em dúvida? Se você já conhece o final da história, não espere por um novo fim. Mas cuidado, em certos casos é preciso ter paciência. Ás vezes faz-se necessário esperar, pois a pressa do coelho branco de Alice pode levar a alienação.

Com o propósito original de criticar o mundo dos adultos que sempre pareciam ter pressa para completar suas tarefas intermináveis em um dia que conta apenas com 24 horas, a estória se aplica hoje as crianças que estão precocemente se tornando jovens adultos. As novas gerações têm em mente que o ócio é algo improdutivo. Errado! É verdade que há muito a se fazer, pesquisar e inovar, mas tudo em seu devido tempo.

Palavras advindas de um jovem adulto que já padeceu de gastrite, alopecia areata e por fim, vitiligo. Entre tantos prazos a cumprir, acabamos esquecendo de reservar um tempo significativo para a nossa saúde. E se não nos atentamos a rotina que exige muito de nós, seja por uma questão cultural (estar atrasado é habito comum entre os brasileiros) ou a desorganização pessoal, o corpo é quem pode solicitar essa pausa, sinalizando seu cansaço físico e mental através da manifestação de doenças.

É preciso priorizar as nossas responsabilidades, os nossos objetivos. Tudo aquilo que não podemos perder tempo. Todo o resto que devemos gastar todo o nosso estoque de horas, e de energia, claro. Por isso, se você está vivendo no passado ou no futuro, é hora de acertar o relógio, pois o tempo é outro. É chegada a hora de viver o presente.