MEMÓRIAS DE UMA NOITE.

O relógio acabara de marcar pouco mais de vinte e três horas e trinta minutos. Ela despertou de uma soneca pós prandial. O jantar avia sido pesado. Ficou a observar o balanço das cortinas, espreguiçou, mastigou a língua , e depois passou-a sobre os lábios ressecados. Ergueu-se, calçou os chinelos surrados.

Queria ir a cozinha, mas o balanço da cortina era maior que sua vontade de tomar um bom copo d'água, então se pôs de pé e guinou-se rumo a janela.

O vento era um monstro que rugia nas gretas das janelas de madeiras. Ela então ia se aproximando, quando uma sombra percorreu por detrás do linho vinho da cortina. Ela gelou-se por completo, fixou a sombra novamente, que dedos imensos, e que pernas longas, a face se assemelhava a um grupamento de brocotós indecifráveis.

Lembrou então que estava só. O medo redobrou, não mais era ela que se dispunha sobre aquelas pernas trêmulas, mas sim um extenso medo,

pensou gritar, mas como, o medo não grita, ela já não dava as regras,a sombra sumiu, só as vozes da noite ecoavam. Ela então deu alguns passos e recostou-se sobre a rústica mesa.

Teve uma incerteza se havia botado a tranca na porta da cozinha. Decidiu tirar sua dúvida, sob arrepios foi até o primeiro degrau da escada que a levava a cozinha. Ouviu barulho de mãos sob a bica de água, como se uma esfregasse a outra, pensou gritar , mas o grito poderia ser a prova da sua presença, recuou e voltou a sala.

A sombra se fez novamente presente, era um ponto fixo sob a lua e o vento que teimava a tremular as cortinas. Ela então criou coragem, uma voz rompeu seu silêncio, força menina você é filha...Ela cresceu, deu dois passos e olhou da fresta da janela. Era ele, o Adamastor, o moço que lhe enviou um botão de rosa.

Quis abrir a janela, não podia , estava só e era moça de casamento. Ele então pegou o violão e dedilhou uma poesia, sua voz entrou pelos orifícios do universo, e ela se derreteu.

La longe dois faróis cortavam a noite, era seus pais que retornavam. Ele então se pôs no matagal ,caiu na noite. Ela na cama, e quando seus pais entraram ela já avia acomodado. Quando pássaros anunciavam a manhã, ela despertou-se do sonho, abriu a janela e a avenida já estava efervescente.

Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 24/10/2017
Reeditado em 24/10/2017
Código do texto: T6152177
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