Depois dos vinte

Talvez eu me acorde um dia, e todas as minhas preocupações tenham sido sanadas. Lembro-me bem que minha única preocupação era o dever de casa e a próxima luta do Goku. Hoje vendo as coisas com os olhos de vinte, entendo mais ou menos o mundo, entendo um pouco de políticas e tenho responsabilidades. E mesmo novo, com apenas 20 anos, completados a pouco tempo, sinto-me preocupado, pois daqui a 10 anos terei 30, e só mais dez anos terei quarenta, e meia idade. E mesmo que achem que é muito tempo, eu acho pouco, pois até parece que ninguém percebe como os anos estão correndo rápidos, como se o tempo fosse uma pessoa e deram patins a essa pessoa.

Ainda cursando a faculdade, e com expectativa de terminar só perto dos trinta, assim gatarei quase uma década da minha vida estudando, com a esperança de quem sabe isso vá me firmar na vida. E sabem de uma coisa, eu fui criado no interior, onde eu morava era sertão, porém nunca fui muito chegado em agricultura ou pecuária, minha vocação estava mais em estudos mesmo, algo como faculdade, todos tinham a plena certeza que um dia eu ia fazer, porém eu encarei sol brabo e escassez de chuva e ainda assim eu era feliz naquele tempo, acho que algo mudou de lá para cá, e eu sei o que foi, eu envelheci, não muito para ficar idoso, mas para ter plena ciência da vida, de como ela é difícil e estava só começando. Naquele não entendia isso, pois sabia que ia sempre contar com meus pais. Hoje ainda conto, eles sempre me ajudam, porém não é mais como antigamente, que eles não pediam nada em troca, hoje eles cobram, me cobram emprego, me cobram terminar logo a faculdade, me cobram até relacionamentos. Viram a diferença, e como é difícil ainda me acostumar com isso, já que não faz muito tempo que eu saí disso.

Bom eu não estou reclamando de nada, isso é apenas um desabafo de como eu me sinto pressionado, justamente porque sei que está na hora, sei que eles estão certos e eu tenho que me estabilizar, eles cobrarem, nada mais é do que preocupação que eles sentem por mim, pois não posso passar o resto da vida as custas deles, e como eles me conhecem bem, sabe que eu sou muito travado, e eu admito, sou mesmo. Eu não sou como aquela frase da música para não dizer que não falei das flores do Geraldo Vandré, “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, sou mais uma dessas massas indies preguiçosas, que tem para tudo no pensamento, aquela história de que se veio para ficar eu fico, se não tanto faz; ou seja, carrego uma indisposição para não lutar por nada. Não sei quando eu me tornei assim, sempre cresci com o ideal de “lute pelos seus sonhos, que você consegue alcançar”. E quando eu era criança eu acreditava sem pestanejar no ideal, eu ria do impossível, como se fosse só uma palavra prefixada.

Depois dos vinte, tudo muda, é como se você comece da arvore do conhecimento, e reconhecesse a quão pelada a vida está a sua frente. Seu ideal se torna impossível, e onde você tem realmente a noção do que significa tal palavra, e rir, para não chorar, você se torna um indie, sem motivação para lutar por qualquer coisa, e o que era grandioso se torna um nada. Eu me acomodei, crucifiquei meus sonhos de criança, e a crença de realiza-los, mas queria que um dia eles ressuscitassem, queria achar algo que me fizesse voltar a ser aquela criança determinada, que levava quedas e se levantava, para correr de novo. Mas hoje, eu mal consigo cair numa rede e se levantar.