Crônica XXIX - O Meu Baobá

Eu não sou um príncipe. Muito menos o Pequeno Príncipe. Eu sou a Mochileira Tupiniquim e li o livro do Antoine de Saint Exupéry na minha adolescência. No livro havia um desenho do próprio autor, quatro enormes baobás estrangulando o planeta do Pequeno Príncipe. Aquele desenho fez com que eu me apaixonasse pela árvore baobá, tão exótica! Desde então um dos meus sonhos passou a ser conhecer pessoalmente, ver com os meus próprios olhos, um exemplar de baobá. Como isso se daria, eu não fazia ideia, eu só sabia que um dia eu conheceria um baobá.

Os anos foram passando e nada do meu sonho se realizar... A vontade de conhecer um baobá, no entanto, continuava lá guardadinha no fundo do meu coração. Nunca desaparecera, mas eu confesso que também nunca me empenhei verdadeiramente em concretizar este sonho. Era uma sensação tranquila, um dia eu conheceria o meu baobá.

Fui estudar na belíssima cidade de Sydney na fabulosa Austrália. Tudo lá adquire proporções gigantescas, superlativas (como um baobá!). Após um curto período de adaptação à casa da minha família australiana, ao novo fuso horário, a nova língua, a nova escola... desandei a passear pela cidade, de preferência a pé para poder sentir aquela atmosfera inebriante. Tudo lá me encantava.

Até que cheguei ao Royal Botanic Garden. Um oásis verdão no coração do centro de Sydney. Eu havia passeado pelo Sydney Harbour, visto o terminal Circular Quay de onde saem feries para vários destinos encantadores. Maravilhei-me com a visão arquitetônica inconfundível da Opera House... e aí enveredei por um caminhozinho que me levou ao jardim botânico sem que eu o esperasse.

Caminhei alegre pelo parque, fascinada com o que via. De repente, parei boquiaberta e paralisei. Na minha frente um sonho se materializava. Lá estava o Meu Baobá... Fiquei um tempão contemplando extasiada aquela árvore, para mim tão cheia de simbologia, de tantos significados. Eu que sempre soubera que um dia conheceria um baobá, agora não sabia o que fazer. Só me ocorria ficar admirando a árvore, o meu sonho, os milagres que ocorrem na nossa vida.

O tempo, contudo, não congela. Eu não podia ficar ali para sempre. Chegou a hora de seguir o meu caminho. Para meu prazer, tive a oportunidade de retornar várias vezes ao Royal Botanic Garden e sempre que o fazia eu visitava o Meu Baobá. Todavia, também chegou o momento de eu dar adeus à Austrália e voltar ao meu próprio planeta, Florianópolis. Voltei com a certeza de aquele baobá único que permaneceu em Sydney, que eu cativei e que me cativou, será para sempre o Meu Baobá.

*Dedico esta minha crônica a minha boa mãe, Elsa Balbão Pithan, minha eterna fonte de inspirações.