Visão do alto

Visão do alto

Deitado em uma esteira, fora do meu barraco, contemplo o mundo de um ângulo completamente diferente. Bem acima, uma pequena nuvem flutua no céu azul pontilhado de urubus. De quando em quando, minha mente vai registrando os acontecimentos e lero-leros das pessoas que passam pelo estreito caminho.

-Olha a cocada, quentinha da hora!

-Quer comprar chinelo aí moço?

-Puxa, você viu o meu time ontem? Aquela cabeçada foi de arrasar!

Fico pensando como pode ser tão confusa a vida da gente... Em cada cabeça um pensamento, uma preocupação, a vaidade tola e esquisita.

Continuo a registrar: ora é o garoto que passa falando palavrões, ora os rapazes ou as garotas comentando as últimas conquistas amorosas. Da minha esteira tudo escuto oculto pela folhagem da cerca viva. É a criança que chora, é a mulher xingando... Ergo a cabeça, lá em baixo a cidade tão estranha... Será que lá a vida é diferente?

Puro engano, a vida é a mesma, apenas rabiscada com um pouco de luxo ou de extravagâncias. Embora superior financeira ou intelectualmente, segue a mesma trilha do menos privilegiado, à espera de um mundo melhor, impregnado com o mesmo espírito de vaidade, egoísmo vingança, vícios e alucinações.

Neste mundo tudo passa em ritmo acelerado, só a compreensão humana ainda se arrasta sobre a terra.

Gilson Faustino Maia

Gilson Faustino Maia
Enviado por Gilson Faustino Maia em 14/11/2017
Código do texto: T6171720
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