Entardecer em Petrolina

A viagem seria longa. Horas me separavam de Manaus, isso não me causava qualquer receio ou impaciência. Viajar sempre é preciso...

Sobrevoando o céu do Nordeste, a aeronave aterrissou em Petrolina para abastecer e embarcar novos passageiros. Sentada na poltrona, ao lado da janela. Eu me sentia como mais uma viajante, daquele voo cujo destino se resumia em levar e trazer vidas.

Depois de alguns minutos, a tripulação anunciou a decolagem. Ao meu lado, um jovem apertava o cinto e inspirava fundo, na tentativa de afugentar o medo de voar. Sem aparentar indícios de conversa, concentrei-me nos movimentos do avião.

O arrebol fervilhava no horizonte, o céu era tingido em tons dourados, que lembravam resquícios de ouro salpicados entre as nuvens. Lá embaixo, Petrolina com suas casas, prédios e plantações. A ponte Presidente Dutra era semelhante a uma régua traçada entre as águas do Rio São Francisco. Os carros minúsculos transitavam de um lado para outro, buscavam seus destinos...

Como um gigante a observar o que se tem sob seus pés. Petrolina se rendia a mim, incrustada naquele lugar que somente a ela pertencia. No meu olhar, a cidade desenhava sua forma. E num inibido momento, pensei em seu sotaque, no seu clima, nos seus costumes e nas pessoas que chegavam e seguiam.

A efemeridade daquele momento fora capaz de ativar minhas saudações. A 36.000 pés, meus olhos já não alcançavam a cidade que me dera apreço. O infinito azul, figurava nuvens ruborizadas. Estrelas brilhantes piscavam como sinalizadores do espaço.

Ébria no balançar das frequentes turbulências. O tempo me trouxe de volta a Manaus. Até hoje me recordo daquele voo. O entardecer em Petrolina me tem como lembrança. Durante alguns momentos fomos cúmplices da solidão que nos envolveu e do amor. Objeto precioso, guardado em alguma bagagem de quem precisa partir.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 19/11/2017
Reeditado em 20/05/2019
Código do texto: T6176611
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