Quimera

Quando eu era criança minha mãe prometeu-me uma arvore de natal. Passei duas semanas imaginando a imponência de tal arvore. Ela era multicolorida, rutilava a ponto de fazer lacrimejar os olhos. Os presentes reverberavam com a insistência das luzes que piscavam de forma aleatória e desconcertante, um pinheiro magnífico envolto pela magia do natal, pelas expectativas dos meus devaneios. Sonhava todos os dias e à medida que o tempo passava a arvore se tornava mais frondosa e extravagante. Já tinha a ideia fixa de algo estrangeiro, minha arvore não tinha mais nada de vegetal, tratava-se de algo excêntrico e magnânimo, fiz da grandiosidade de minha arvore a ansiedade dos dias vindouros. Não havia mais espaços para Papai Noel, presente e natal. Preenchi tudo que dizia respeito a dezembro com divagações sobre a minha arvore.

O tão esperado dia chegou. Retornei da escola com a notícia que a minha arvore tinha chegado. Fiquei alucinado com a possibilidade de vê-la, toca-la, observar a grandeza babilônica do meu adorno de natal. Ah! Que decepção! Meus sonhos desmoronando diante da pequenez da realidade. Quando entrei na sala deparei-me com uma arvore pequena, sem brilho, sem cores. Apesar da tristeza fui até o quarto de minha mãe e agradeci pela arvore. No meu agradecimento falei de forma emocionada, fiz minha mãe acreditar que a tal arvore que ela comprara era maior do que a do meu sonho, beijei-a com sinceridade por ter-me feito sonhar com o que eu queria e de forma indireta apresentar-me o apoucamento da realidade e a imensidão sem termo da fantasia.

Hoje tenho a convicção de que nossos sonhos são a dilatação da realidade. Nunca vi uma arvore de natal tão linda qual aquela em que um dia sonhei.

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 23/11/2017
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