Saudade do sertão

O sertão é difícil, não é para aqueles que a ele não pertence. Um olhar desdenhoso talvez faça você achar que já entendeu tudo, mas ele é mais complexo que isso. O chão tão amarelado e vermelho, que já nada mais brota; As chuvas fracas, somente sereno, que nem faz escorrer um ribeiro. Pela logica da coisa, ninguém iria gostar de viver no sertão, naquele nada, onde o sol se esconde. Mas como eu disse, o sertão não é para os fracos, de sangue e de nome. O sertão impõe nosso próprio nome, pois os verdadeiros, só há registrado no cartório, e quase ninguém os sabe.

Olhando as terras gastas, donde a poeira sobe, cada canto, eu já estive ali. O sertão está dentro de mim, é quase o todo de minha maior parte. Tenho um tio, que diz que não entende, como meus pais ainda moram num lugar desses, seco, onde não tem nada, somente parentes bêbados: já teria se mudado - diz ele. Ele está certo, em todos os argumentos, o sertão é aquilo tudo, algo odiável, porém é dialético, e tudo que ele é, o faz amável.

Eu já sofri falta d’agua, houve um tempo que tinha que ir para longe em busca, para beber, para tomar banho. Já vi gado morrer de sede. Porém as vezes o que gostamos é o que mais nos faz sofrer, o sertão me fez sofrer por um tempo, porém tudo que ele estava me ensinando era a viver. Hoje tudo que sinto é saudade daquele tempo, saudade de quando eu vivia no sertão, brincando no sol quente, levando poeira nas ventas e quase nunca gripando. Hoje na cidade grande eu estou fraco, tenho novos hábitos, e há tudo, muito cimento e concreto, o sertão as vezes era solitário, mas na cidade grande não dá para se sentir assim, entre tanta gente, embora as vezes inseguro e com medo. E é por não me sentir como antes que escrevo, com saudade de um sentimento esquecido, com saudade do sertão.