SOCIOLOGIA DAS CLASSES MÉDIAS OU "COLARINHOS BRANCOS" COM BASE EM W. MILLS

O fenômeno da classe média, que está no âmago do movimento "hippie" como clichê de rebeldia e levante contra o sistema, foi amplamente estudado pelo sociólogo americano, C. Wright Mills, no livro “A Elite do Poder”.

Com a expansão dos escritórios de contabilidade, dos escritórios de advocacia especializados em empresas, dos bancos e seguradoras em metrópoles europeias e norte-americanas, a partir da formação do capitalismo financeiro, nos anos 20, Mills aponta a existência de uma nova classe trabalhadora. Uma elite assalariados: os executivos.

Os executivos, a nova elite da classe trabalhadora, são educados em escolas de negócio e não são proprietários de meios de produção, como a alta burguesia. E isso é um dado importante: não são proprietários de meios de produção.

Logo, os colarinhos brancos oferecem sua alta educação, acrescida de idiomas diversos e conhecimentos das técnicas de administração, aos acionistas das grandes corporações. Estes acionistas estão mais interessados em "glamour" do que trabalho duro de gestão: herdaram ações ou as compraram para aposentadoria por meio de fundos de previdência complementares.

Basicamente, os executivos formam o que se chama de classe média ou pequena burguesia, que já era difundida em grande escala nos anos 30 nos Estados Unidos, sendo somente difundida no Brasil, a partir dos anos 70.

Os colarinhos brancos ganham salários um pouco melhores do que os trabalhadores de fábrica, de macacão e com graxa nas mãos, típicos do modelo taylorista-fordista (“os gorilas amestrados”, como Ford os chamou).

Os colarinhos brancos vivem em grandes cidades, em pequenos apartamentos centrais, usam largamente os financiamentos para aquisição de bens móveis e imóveis um pouco melhor do que os consumidos pelas baixas classes operárias.

Por conta disso, tendem a possuir uma visão de mundo prol ao sistema capitalista, pois pensam que se beneficiam dele, diferentemente dos operários de chão de fábrica, massacrados por duras condições de trabalho.

Porém, os colarinhos brancos não possuem uma estabilidade nos empregos, vivendo uma tensão permanente pela perda do padrão de vida de classe média que envolve endividamento e relações com base no status.

Os colarinhos brancos são também conhecidos por serem trabalhadores compulsivos, os quais procuram cultivar essa aparência, apelando, inclusive, para substâncias estimulantes, que fez crescer o mercado ilegal de substâncias psicoativas.

Os colarinhos brancos, segundo Mills, chegaram a ser 60% da classe trabalhadora dos Estados Unidos, nos anos 60 aos 70 do século passado. Os colarinhos brancos formam a base do que os sociólogos do século XX chamaram de opinião pública, que passa a ser uma preocupação permanente dos executivos da área de marketing empresarial e político, ligados aos grandes conglomerados; porém, como era de se esperar ao que aconteceu com a mecanização das fábricas, a informática também afetou o desemprego dos colarinhos brancos, ocupando seus postos em setores como bancos, comércio, telecomunicações e educação.

No caso brasileiro, segundo o sociólogo Ricardo Antunes, caímos de 1 milhão de bancários, em 1980, para atuais 400 mil bancários na primeira década do século XXI.

Com os aplicativos de celulares sendo a cada dia mais eficientes por conta da melhoria dos processadores, que estão passando de 100 GB, serão realizados mais e mais pagamentos e outros serviços sem a intermediação dos bancários.

No caso da educação, a cada dia mais os sistemas de ensino na modalidade EAD (à distância), fazem que um professor possa ministrar uma aula para milhões de alunos em tempo real, sem ter mais o problema de disciplina em sala de aula.

Além disso, a aula poderá ser vista várias vezes, pois estará armazenada em plataformas digitais. Sendo assim, cairá também a necessidade de professores como a do tempo do ensino presencial somente, que ainda continuará existindo, mas será acoplado às novas tecnologias de educação, que fazem o custo cair, democratizando o acesso à escola, daqui para frente.

No futuro, a mão-de-obra será a cada dia mais especializada e ao mesmo tempo terá que ter mais de uma formação para saber migrar entre as várias áreas.

Profissões novas nascem por pressão das plataformas digitais, que demandam a cada dia mais programas novos que atendam a necessidade dos diversos setores da economia que existem e estão ainda por existirem.

A produção de bens não materiais, de mercadorias como informação, ideias, tendências, moda darão sustentação a novo perfil de trabalhador que será obrigado a ser criativo.

A criatividade, segundo Alvin Tofler no livro "Choque do Futuro", é a marca da sociedade pós-industrial, na qual o emprego de tempo integral tende a desaparecer diante do crescimento dos trabalhadores autônomos, sem vínculo empregatício, vendedores de conhecimento.

O capitalismo não acabará, mas apenas será modificado para um tipo de economia de bens imateriais.

Fala-se até no fim da moeda, por conta dos "bitcoins".

Muitos subestimam, mas os trabalhadores domésticos serão engrossados por fisioterapeutas, enfermeiros, educadores físicos e uma gama de profissionais de nível superior que viverão de honorários por atendimento à domicilio.

Com o crescimento da população idosa, o bem-estar será um ramo fértil de expansão na sociedade pós-industrial ou de serviços, como os sociólogos vêm defendendo.

Diante de tudo que foi afirmado, podemos inferir que:

1) a tendência é o crescimento das classes médias diante da expansão da sociedade de massas. Porém, a classe média não pode ser entendida apenas por seus padrões de consumo, pois todo assalariado é proletário quando é produtor de mais-valia para o capital (embora trabalhadores improdutivos de mais-valia estejam também a crescer, como são os funcionários públicos);

2) Pequena burguesia é a classe mais apropriada para ser chamada de classe média, quando são profissionais liberais que trabalham para si e são auxiliados por poucos empregados. Classe média é essencialmente a pequena burguesia (logo, todo assalariado, em regra, não é pequeno burguês apenas pelo motivo de consumir alguns bens de luxo que fazem parte do consumo M D M da alta burguesia);

3) a classe média está sempre confundida com trabalhos intelectuais; porém, o futuro dos trabalhos intelectuais é serem produtores cada vez mais de mais-valia para o capital. Por isso, não confundamos pequena burguesia com proletário de colarinho branco, que é tão proletário como o fabril, mas sem consciência de classe.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 25/11/2017
Reeditado em 06/12/2022
Código do texto: T6182238
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