Realejo- Doce lembrança.

         Era início dos anos 60,  e à vezes meus pais nos levavam ao centro de São Paulo,  era raro, mas só por lá é que haviam cinemas e algo para se ver.
         Uma das lembranças mais vivas daqueles dias , era o encantador realejo, e sabendo do meu querer, meu pai deixava que o loro tirasse a sorte,  para o meu encanto, e o melhor momento era o de ver a portinhola se abrir, olhando  o simpático bichinho beliscar os tantos bilhetes dobrados, até pegar um e entregar ao seu dono. - Lá estava o meu futuro !
         Lia com carinho aquela mensagem colorida , sempre otimista, e a guardava no bolso da calça , achando que iria se realizar , afinal era o meu destino. - O que o loro escolhera para mim !
         Olhei por curiosidade o significado da palavra "realejo", que nada mais é do que um orgão mecânico, movido a manivela.  O que importa , afinal ?  Talvez muita coisa, pois nada mais existe daqueles tempos,  os mais jovens nem sabem o que é um momento onde o tempo pode parar para uma foto , mesmo que seja apenas na retina de uma criança de oito anos.
          Ainda hoje gosto de ir ao centro velho de São Paulo, com seu pulsar urbano, passando pelo Viaduto do Chá ,e os tantos calçadões, cruzar a Ipiranga com a Av. São João, e me lembrar da canção "Sampa" - " ...Alguma coisa acontece no meu coração...".
           Os passeios da infância eram raros, tudo parecia uma longa viagem , e os ônibus da CMTC  soltavam fumaça,  e tudo parecia cheirar a diesel queimado , mas o sorvete Kibon e o realejo compensavam o sacrifício.  
         

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 30/11/2017
Reeditado em 30/11/2017
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