Clima de Natal

Até bem pouco tempo eu não gostava do natal. Ele sempre chegava carregado de lembranças e saudades de pessoas que a gente queria junto, mas que já não podiam mais vir para a nossa festa. E então a saudade doía, e doía muito. E aquela festa que deveria ter clima de alegria, chegava para mim com gosto e cheiro de saudade, cutucando minhas lágrimas quando meus olhos encontravam alguns lugares vazios.

Também tinha mania de abraçar a dor do mundo, de imaginar a fome espalhada na mesa vazia dos miseráveis, enquanto a nossa, dentro de nossas possibilidades, sempre foram fartas e saborosas. Eu sempre engolia pedaços de culpa, junto coma as delícias que minha mãe fazia. E guardava minha tristeza escondidinha lá no fundo do peito, para não comprometer a alegria dos meus filhos, que como toda criança, esperavam com muita ansiedade a “noite feliz”.

Hoje meus filhos cresceram, já não mais acreditam em Papai Noel e dividem comigo a escolha de seus próprios presentes, para que todos fiquem felizes e realizados com essa tradição que alguém inventou para aproximar as pessoas. Fiquei pensando sobre isso outro dia e cheguei à conclusão que essa história de Papai Noel foi invenção de pais pobres. Pobres, mas muito criativos. Porque enquanto a responsabilidade de presentear os pequenos recai sobre o bom velhinho, os pais salvam-se ilesos quando a situação não permite a realização dos sonhos de seus pequeninos. Papai Noel pode se enganar de endereço, errar no presente, esquecer o pedido, ou até mesmo, se cansar na metade do caminho... Para ele, tudo é perdoável, afinal está velho, cansado e sozinho, para dar conta de atender tanta gente miúda que espera um presentinho. Mas pai e mãe não podem correr o risco de cometer esses deslizes sem despertar mágoa e decepção no coração daqueles que tanto amam e que jamais querem ver sofrendo. Então, que viva a tradição e a fantasia na doce inocência das nossas criancinhas. Nós, que já não temos mais tempo para sonhar ficamos felizes em realizar os sonhos daqueles que amamos e fazemos de tudo para que a felicidade reine sempre, especialmente na noite de natal, quando o amor sempre fala mais alto entre os homens e a alegria das crianças faz o colorido da festa.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 02/12/2017
Reeditado em 02/12/2017
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