"Um país se faz com homens e livros" - Será?

“Um país se faz com homens e livros.” (Monteiro Lobato)

Será?

Depois de me colocar no mercado editorial, trabalhando como revisora de tex-tos e parecerista, resolvi abrir caminho para meus textos, mantidos engavetados. Por obra e graça de uma terapia, vinda em função do tratamento da Síndrome do Pânico, tentando superar a baixa estima, investi em mim mesma. Há anos, ouvi centenas de negativas das editoras comerciais; então, era momento de agir de forma diferente. Ataquei as de demanda. Dentre várias com as quais trabalhava, apostei numa e... pim-ba! Marquei o gol.

“Com a faca e o beijo na mão” foi lançado assim, em dezembro de 2009. E é engraçado que, depois que você faz dedicatória para uma dúzia de amigos e parentes, ou umas cinco para os amigos dos amigos/parentes que se interessaram pela obra, você se depara com a pergunta: “E agora?”. É hora de sentar, de começar outro livro, ou de ficar esperando as vendas e os lucros?

No meu caso, sentar ou deitar era o que mais fazia, em virtude do tratamento médico. Começar outro parecia cedo demais; no mínimo os convidados para o lança-mento jogariam pedras em mim. Então, restou-me divulgar a obra, visando ser reco-nhecida pela escrita e, por que não dizer, ao lucro.

Além do site da própria editora, eu contava com o boca a boca dos que leram o livro; a exposição da obra em duas livrarias e, posteriormente, em bancas de jornal da minha cidade e de outras. Vendas? Várias. Muitas? Hum, talvez exagero de minha par-te. Mas consegui esgotar minha primeira tiragem e encomendar a segunda. Ah, tive também propagandas na TV e num jornal impresso.

E o dinheiro? Quem acha que ele veio em resposta ao livro erra. Preço, falta de tempo, esquecimento, desinteresse... Muitos fatores levam as pessoas a não lerem ou a não lerem muito, quando se trata de livro de literatura. E, notoriamente, por se tratar de uma autora estreante. Que pena que ainda se prefira a revista de fofoca, ou a que oferece emagrecimento milagroso a conhecer um escritor recém-chegado ao merca-do!

Fico analisando a questão. O brasileiro lê razoavelmente, mas suas leituras são as rápidas e superficiais, como as manchetes e os resumos das notícias no jornal ex-posto na banca, ou os textos curiosos da Internet. Pensando mais, também se lê muito e-mail, recado do Facebook, mensages pelo WhatsApp... Mas, e o livro de uma autora nova que tem uma capa chamativa? Nem por curiosidade? E o pior: por que o escritor iniciante, já não tão iniciante assim, insiste num segundo ou num terceiro livro?

Quem é apaixonado por leitura sabe que Lobato estava certíssimo. Livro é tudo: é casinha pra gente brincar, como dizia uma autora; é nutrição, como dizia outra... Ou ainda, o maior barato, como afirma uma terceira. Então, por que não somos, numeri-camente, um dos povos que mais lê? Falta de incentivo, valor alto dos livros ou pregui-ça? E, se a barra já é duríssima para quem é campeão no mercado, por que certos loucos também querem ser escritores? Talvez a resposta esteja na palavra AMOR.

Nós que lemos e escrevemos somos especiais. Guerreiros, acima de tudo. Ain-da nos emocionamos quando nos deparamos com uma obra rara... Nós ainda vamos a sebos, na esperança de encontrar um exemplar da primeira edição do nosso autor pre-ferido. Nós ainda acreditamos que estante não é lugar pra bibelô; mas, para livro. Nós ainda presenteamos as crianças com livros de pano. Enfim, somos uns emotivos e esperançosos!

Pena que esperança e paixão pelas letras não encha barriga. Pensando bem, só se for sopa de letrinha...

Vanise Macedo
Enviado por Vanise Macedo em 07/12/2017
Código do texto: T6192825
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