MEMÓRIA ENVELHECIDA

Há poucos dias, conclui meu décimo oitavo livro, entre eles nove narrativas de viagens mundo afora, nas quais contei sobre minhas andanças por quatro Continentes: América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia.

Nesses textos, transmiti aos meus fieis leitores o que vi em terras distantes. Descrevi acontecimentos históricos dos lugares visitados e ousei relatar sobre pitorescas paisagens, templos religiosos e museus repletos da mais pura beleza artística, proveniente de inspiradas vocações, de mãos habilidosas e de privilegiadas inteligências que legaram à humanidade o conhecimento e informações que os ilustraram merecidamente.

Agora, que terminei o livro Turismo, Um Ato de Amor ao Corpo, à Mente e ao Espírito, encontro-me ocioso e falto de inspiração para satisfazer o que tanto me apraz: escrever!

Em ocasiões passadas, também me senti angustiado pela inatividade literária. Naquela época, sem assunto, escrevi duas crônicas sobre meu estado de ânimo. Dei-lhes o título de Nada e Caminho das Pedras. Em ambas as ocasiões, refleti a amargura daqueles infelizes momentos. Sorumbático, confessei meu fracasso inspirativo, com as mãos postas no teclado do computador, à espera do lampejo de alguma ideia. Exatamente como me acontece hoje.

Para não “passar em branco” nem romper o compromisso de enviar a meus amáveis leitores a Crônica do Dia, como o faço rotineiramente, resolvo contar-lhe certa história, extraída de meus alfarrábios. O assunto difere-se do que costumo escrever, não esquecendo, também, que sou autor de dois livros de crônicas de humor. Um deles denomina-se Caçoada e o outro, Umas e Outras.

Leia, pois a história:

Certo homem, cuja idade ultrapassara os oitenta anos, encontrava-se sentado em um banco da praça principal da cidade. O ancião estava aflito. Inconsolável. Dava pena o seu estado emocional. As lágrimas escorriam copiosamente pela face enrugada, quando certo indivíduo perguntou-lhe o motivo do desespero. Respondeu-lhe o velhinho, dizendo-se perdidamente apaixonado por uma jovem de vinte e três anos, cuja beleza superava a das mais famosas ninfetas de que se tem notícia. Disse ele ao cidadão que o interpelou ser perfeitamente correspondido pela mocinha, com a qual fazia amor nas mais variadas horas do dia.

– Duas, três, e até mais vezes em curto período de tempo – disse melancólico.

Seu interlocutor, após, ouvi-lo atentamente, lembrou-lhe não haver motivos para o desespero. Em sendo ele, o vovô, bem correspondido em suas façanhas amorosas, por que, então, chorava inconsoladamente?

A resposta do apaixonado velhinho foi que havia esquecido o endereço onde morava. Não saberia voltar àquele formidável ninho de amor. Como, assim, iria reencontrar o grande amor de sua vida? E ela, coitadinha – dizia ele entre soluços – iria suportar a ausência tão prazerosa?

Pois é, digo eu, vimos que dói muito a ausência de memória. Até para quem escreve. Portanto, que me perdoe o leitor a falta de assunto. Talvez as próximas crônicas sejam produzidas com maior seriedade. Quem sabe!