GLAUCO, O ENGENHEIRO DAS MINAS GERAIS.

“Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa pela nossa vida passa sozinha, não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós"

Charles Chaplin

Ewerton Silva, lembra desse cara? Grande abraço!

GLAUCO, O ENGENHEIRO DAS MINAS GERAIS.

Meu segundo emprego como engenheiro foi em uma empresa chamada Ecisa. Trabalhava na implantação das Baterias de Coque na Companhia Siderúrgica Paulista- COSIPA. Com um ano de formado, era responsável pelo setor de produção. Como acontece em obras de grande porte, havia um bom elenco de equipamentos e um engenheiro mecânico chamado Glauco foi contratado para ser responsável pela manutenção.

Mineirão, gente muito boa, Glauco revelou-se uma figura. Era de uma cidade muito pequena e cursara a Faculdade de Itajubá. Aos poucos foi contando suas experiências, a maioria hilária. No começo do curso alugou um pequeno apartamento que ficava na parte de cima da garagem de uma casa, tinha entrada independente, onde morou todo o tempo de faculdade. Em frente ao local ao local havia um ponto de táxi, onde sempre estavam vários motoristas conversando enquanto aguardavam passageiros. Embora fosse noivo em sua cidade natal, conheceu uma moça divorciada que passou a frequentar a casa do Glauco. Ao chegar ao final do curso, sua família toda ficaria em seu apartamento, para a formatura do novo engenheiro, inclusive sua noiva. Glauco tentou convencer sua namorada local que ela deveria se afastar, pois ele estava de saída de Itajubá, etc., o que gerou violenta discussão em frente à janela aberta. Os dois começaram a se agredir, ele tentou segurá-la, o que chamou a atenção dos taxistas que estavam conversando na calçada. Glauco ouviu então alguém dizer: “– Não vai bater na mulher, seu covarde! No mesmo instante, parou de discutir, olhou para o grupo de homens e ameaçou:” – Quem falou isso espera aí em baixo!”“, e se dirigiu à escada. Enquanto descia os degraus se deu conta da enrascada que estava se metendo e que poderia tomar uma surra dos motoristas. Ainda lembro-me de suas palavras: “- Paulo, dei uma afinada enorme!”. Chegou à porta, abriu um pequeno vão e perguntou: “- Quem me chamou de covarde?”, o mais forte do s taxistas respondeu: “- Fui eu, algum problema?”, ao que Glauco respondeu: “– O senhor não sabe que é feio se intrometer na vida dos outros?” É uma falta de educação muito grande, viu? Não faça mais isso!”. Nem esperou resposta. Trancou a porta e se escondeu em casa por uns dias.

Aos sábados eu levava minha prancha encima do carro e depois da obra ai ao Guarujá surfar, na praia de Pernambuco. Glauco passou a me acompanhar. Eu surfava, ele tomava todas nos quiosque e ficava olhando. Em um dia de mar bravo, lavei um tombo imenso. Cheguei à praia, Glauco comentou: “- Esse negócio é muito perigoso. Via um cara levar um tombo, acho que morreu!” Respondi: “- Fui eu !”. Glauco riu muito.

Na época, em 1974, eu ia semanalmente à sauna do Mamede, em São Vicente. As massagens eram realizadas por mulheres, mas não havia nenhuma outra finalidade a não ser a massoterapia. Nem pensar outras coisas, pois seu Mamede era rigoroso nesse aspecto e fiscalizava suas funcionárias. Uma das massagistas chamava-se Jura, uma negra magra que era ótima massagista, muito séria que eu, como atleta, preferia. Glauco começou a me acompanhar na sauna. Na primeira vez, relutou em ficar nú, cheio de vergonha, mas tirou a roupa de frente para um canto do vestiário, amarrou uma toalha na cintura e foi direto ai bar. Pediu uma cachaça, não tinha o hábito de tomar cerveja. Entramos nas saunas seca e úmida e voltamos ao bar. Mais uma ou duas cachacinhas, eu na cerveja. Falei que ia fazer massagem, havia chegado a minha vez. Espantado, Glauco me disse que havia dado o nome para uma das massagistas mas que não fazia ideia para qual finalidade. Expliquei que era para massagem. “- O que? Uma mulher vai me fazer massagem? Não vai dar certo!”. Fui para a sala da massagem. Uns quinze minutos voltei ao bar. Lá estava o Glauco, com uma cara sem jeito. Perguntei se havia gostado da massagem. Gostar, gostou. Mas quando a moça começou a apertá-lo aconteceu um imprevisto. “- Paulo,fiquei animado demais! Com muita vergonha pedi pra moça parar, me tapei com a toalha e sai. Não deu certo esse negócio de mulher me apalpar!”. Ri muito da situação.

O melhor jogador de snooker e pebolim que conheci. Dava muitos pontos de vantagem, jogava com uma das mãos sem apoiar o taco e não perdia uma partida. No pebolim, driblava, fazia gol de cabeça, etc.

Glauco, eu soube anos depois, partiu. Mas deixou saudades com sua mineirice, sua inteligência. Onde estiver, grande abraço.

Paulo Miorim 18/12/2017

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 18/12/2017
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