Nunca serei um bom cronista

Você nunca, naqueles sagrados momentos de leitura, esfolheando um daqueles esplêndidos livros de escritores do naipe de Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga ou David Coimbra, se perguntara algo como: “bah, de onde diabos esse cara tira tanta criatividade?” Muito bem, caro amigo. Saiba que você não está sozinho e que, nesta hora, milhares de pessoas estão se perguntando a mesma coisa. Eu, inclusive.

Não há pior sensação do que aquela em que você, seja em frente a um computador escrevendo uma matéria, na cama escrevendo um diário, ou ainda - que horror! - em frente a mais de 25 linhas em branco de uma redação de vestibular, fica completamente paralisado. A única coisa que você consegue ver é a imagem dos ponteiros do relógio movendo-se na velocidade da luz, o tempo passando devastador como um furacão sobre uma pequena ilha do Caribe. “Nada pode ser pior!”, você pensa. E descobre que sim. Ainda pode piorar: sua mão paralisa. Você paralisa. Deus!, seu cérebro paralisa.

- Vamos lá, homem! Você consegue!

- Não, eu não posso. Sou um derrotado! E enquanto seu monólogo interior segue o rumo, um leve pavor começa a invadir sua mente. “Não vou conseguir! Eu não mereço viver. Mas que droga!”

No fundo, você sabe, que ainda pode piorar. Você poderia ter um mal-súbito – que virou moda no futebol - ou algo assim. Mas não, lá vem a salvação. Seu indicador começa a movimentar-se lentamente, como um panda recém acordado. Idéias agora começam a surgir por todos os lados. Você já pode começar a organizá-las e pô-las, todas, no papel. Mas agora é tarde. Seu tempo acabou e, agora sim, já pode se desesperar.