Muitas coisas mudaram para melhor.

A minha esposa entrou na igreja de noiva, vestido lilás bem clarinho, mas não era branco porque não podia, estava grávida de três meses e naquela época era assim . Nunca liguei para essas bobagens, nem naquele tempo, mas se era assim, que fosse. Hoje teria mandado tudo mundo para a PQP.

Na minha pouca idade só imaginei que deveria combinar com ela, então fui com um terno cor de vinho, camisa lilás e gravata grená, e não é que combinava mesmo ? Ambos éramos jovens, e essas coisas pouco importavam, estávamos felizes .

Eu ganhava pouco e ela deixou o emprego por aquela época, meus pais nos cederam um quartinho e um banheiro pequeno na laje, que estavam vazios, nos deram um dormitório simples, que logo paguei , mas eu sabia que ela não estava feliz e ficamos por lá apenas no primeiro ano, quando nos mudamos para uma casinha de fundo de uma família italiana, amigos nossos, e lá sim, nos sentimos realmente casados.

Quando Mônica chegou, sequer tínhamos geladeira, 40% do que ganhava era para o aluguel, que nunca fiquei devendo, mas por sorte a Ford pedia que eu estendesse o turno, eu trabalhava na Produção, que fosse pelo menos dois sábados ao mês , e claro que amarrei aquela oportunidade com unhas e dentes, assim completamos a mobília, pagando a geladeira (vermelha), à vista . Entraram aos poucos, também um sofá, duas poltronas, uma mesinha , além do resto da cozinha. Trabalhava horrores, mas estávamos tocando a vida adiante, pagando as contas, e mesmo sem podermos sair como antes, valorizávamos os poucos momentos juntos.

Quando Fátima engravidou nós éramos estudantes, e namorávamos já faziam dois anos, e discutíamos bastante, embora nunca tenhamos nos separado. Temos gênio forte, e batíamos de frente por qualquer besteira, mas nos gostávamos ,e acabávamos consertando e aprendendo a cada dia um pouco mais. O fato de eu ser bem humorado ajudou muito, sempre a fazia rir e nossas discussões muitas vezes acabavam em risadas.

A única coisa que às vezes me tirava de casa era o futebol, mas foram nos primeiros anos apenas, não havia mais tempo para isso.

Os filhos foram chegando e a maturidade também, aos trinta anos já parecíamos ter quarenta, dez anos haviam se passado e agora tínhamos três filhos e muita dedicação.

Hoje, vejo muitos casais jovens não se permitindo ir mais além, vão só até onde a vista alcança, não esperam a tormenta passar, e ela sempre passa, nem todos os dias são iguais. A única coisa que não se pode perder é a fidelidade, pois isso sim, mata a confiança.

As pessoas se colocam muitos limites, não aprendem a se perdoar, levam tudo à ferro e fogo, mas somos somente seres humanos tentando ser felizes, e nada mais.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 02/01/2018
Reeditado em 02/01/2018
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