Que idade mesmo?

William Shakespeare disse: ” Um dia você aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.”

Depois dos 50, ouvir que não parecemos ter a idade que realmente temos pode ser bom ou ruim, dependendo do que for dito. Se nos dão menos depois que passamos dos cinquenta, é tudo de bom, o ego agradece. Se nos dão mais, começamos a achar que tem algo errado. Mas isso é realmente importante? Acredito que para muitos é. Percebo o preconceito por conta da idade, como se não fosse o destino de todos, envelhecer. Assim como morrer. Sei que é custoso para muitos encarar com naturalidade esse processo, e não é fácil mesmo, ver o corpo se modificando, envelhecendo.

Temos a idade daquilo que vivemos, dos sonhos vividos e não vividos, das esperanças acalentadas, das certezas que se perderam em algum ponto do caminho. Das ilusões que nos encheram de esperanças um dia. Tenho a idade que quiser, que me permitir ter, que se molda ao meu ser, ao que sou, a minha cabeça, minha vida, meu estilo. O que importa na verdade? Posso ser maduro ou inconsequente a vida inteira, não é o número que vai me fazer amadurecer e ser mais responsável do que era quando tinha 20 anos. A experiência sim será maior, e isso pode fazer a diferença, vai depender de quanto nós conseguimos absorver e utilizar o que foi aprendido a nosso favor. Que idade temos? Isso não tem nenhuma importância. Basta saber que estou na idade que a opinião do outro faz pouca ou quase nenhuma diferença na minha vida. Estou na idade em que o medo foi substituído pela vontade de experimentar, de ousar, de começar de novo se for preciso. Estou na idade em que me permito mudar o que não está bom. Tenho a idade para querer um amor maduro, calmo, ou uma paixão que me tire do sério e me faça ver a vida com outros olhos, porque não?

A maturidade libera o sentimento de não sentir culpa por dizer não, se aprende a pedir desculpa, a reconhecer os erros, mas a não ficar se torturando para sempre. Persiste a vontade de continuar aprendendo – e isso independe de idade- de continuar crescendo, de descobrir novos mundos. Fazer coisas novas, Reciclar. Buscar soluções.

Nosso entendimento sobre o que nos faz bem é maior, conseguimos evitar o que nos aborrece, o que nos deixa mal, tudo isso porque vivenciamos muitas situações durante a nossa vida. As nossas experiências nos dizem o que devemos ou não fazer, o que queremos ou não, pelo que vale a pena lutar, experimentar. Aprendemos que não temos controle sobre tudo e que a impermanência faz parte da vida, entendendo isso, coseguimos ser mais tolerantes e pacientes. Podemos dizer que ficamos menos ansiosos e mais livres para sermos apenas nós, sem o peso das muitas escolhas que temos que fazer quando somos mais jovens, e que depois de passados alguns anos, percebemos às vezes não ter sido a escolha certa. A profissão não agrada, o casamento foi precipitado, enfim as dúvidas são muitas.

A idade nos dá uma compreensão de nós mesmos, dos nossos quereres, e na maior parte do tempo nos deixa mais calmos. O medo quando existe já não nos paralisa, ao contrário, nos impulsiona. Aprendemos a ouvir, pois queremos ser ouvidos também, aprendemos a respeitar o tempo de cada um. É claro que há exceções, como tudo na vida. A maturidade nos dá a segurança do entendimento sobre nós mesmos, e a tranquilidade que só quem se percebe consegue ter, nos conecta com a nossa essência trazendo mais entendimento e segurança.

Os anos que temos, tem a ver com o que vivemos!

O nosso querido poeta Mário Quintana muito bem falou sobre isso em;

O velho do espelho

Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse

Que me olha e é tão mais velho do que eu?

Porém, seu rosto…é cada vez menos estranho…

Meu Deus, Meu Deus…Parece

Meu velho pai – que já morreu!

Como pude ficarmos assim?

Nosso olhar – duro – interroga:

“O que fizeste de mim?!”

Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,

Lentamente, ruga a ruga…Que importa? Eu sou, ainda,

Aquele mesmo menino teimoso de sempre

E os teus planos enfim lá se foram por terra.

Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra!-

Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste…

Mariene Hildebrando

MarieneH
Enviado por MarieneH em 10/01/2018
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