Este Portugal brasileiro

Meus Amigos: Portugal está aí nas graças do mundo!

Entre outros feitos, recordo que o país é, no futebol, o Campeão da Europa em título (2016) e que também ganhou pela primeira vez o Eurofestival da Canção (2017).

António Guterres é o Secretário-geral da Nações Unidas, Mário Centeno é o Presidente do Eurogrupo e Cristiano Ronaldo foi eleito pela 5ª o melhor do mundo em futebol.

Já neste mês de Janeiro de 2018, Ricardinho foi eleito pela 5ª vez o melhor do mundo em futsal e Hugo Vau terá pulverizado na Nazaré todos os recordes do surf com uma onda de 35 metros.

Se na cerimónia dos prémios anuais do turismo europeu, em 91 categorias, Portugal já vencera 23 (e entre estas, a Madeira como melhor destino de ilhas, o Algarve como melhor destino de praias, Lisboa como melhor destino de cruzeiro), o que dizer quando uns meses depois, nos óscares mundiais do turismo, Portugal foi eleito o melhor destino turístico e Lisboa a melhor capital?! ...

Para todo este êxito não será alheio o facto de Portugal ter sido considerado o 3º país mais pacífico do mundo, de ter cidades limpas e modernas, de ter mais de três mil horas de sol durante o ano, com muitos dias acima dos 30 graus e dos meses de inverno serem amenos em relação ao resto da Europa, de ter 440 praias em 850 kms de litoral e de ter centenas de castelos e fortalezas numa relação umbilical com a história e a cultura.

A todos estes itens, acresce o facto de a grave crise financeira dos últimos anos, parecer ter ido embora e Portugal caminhar em bom ritmo para um futuro mais promissor.

* * *

Mas, seguindo apenas a perspetiva dos portugueses, tudo isto poderia ser visto com algum distanciamento, pois o instinto demonstra que em todo o tipo de auto-promoções pode sempre existir algum exagero.

Por esse motivo pensei em fazer alguma pesquisa na tentativa de tentar perceber o que dizem aqueles que nos visitam ou que escolhem Portugal para residir ou para tentar refazer as suas vidas.

Entre 2007 e 2016, Portugal concedeu cidadania a mais de 400 mil estrangeiros, num total de 477 mil pedidos. Considerando o ano de 2016, os brasileiros são os maiores beneficiários, seguidos dos cabo-verdianos e dos ucranianos.

Percorrendo o Youtube centrei a minha atenção sobre os vídeos postados por brasileiros a trabalhar, a estudar ou já residentes no país e que falam das suas experiências a quem os quiser ver e ouvir.

Pelos comentários encontrados é possível observar a surpresa dos seus conterrâneos no Brasil, ao leram aquilo que é proposto e apresentado sendo que a segurança, o civismo, o clima, a comida, os preços dos bens, as belezas naturais, a sua história e modernidade do país, os tópicos principais apresentados – bem longe daquele português negativamente estereotipado que em tempos emigrou para o Brasil.

Para aqueles que tiverem alguma curiosidade sobre aquilo que mostram, dizem e aconselham os seus compatriotas, apresento os links (que podem colar nos vossos navegadores, pois desativei a licença anti-cópia) de três usuários que me parecem genuínos e bem documentados:

Rubens Lins:

https://www.youtube.com/watch?time_continue=28&v=GRrUHWEF8K0

André Oliveira:

https://www.youtube.com/watch?v=tpOipQXIbG0

Junior:

https://www.youtube.com/watch?v=v-wBuH90QSg

Entretanto, deixo-vos aqui um testemunho emocionante, da professora universitária e advogada, a brasileira Ruth Manus:

COISAS QUE O MUNDO INTEIRO DEVE APRENDER COM PORTUGAL:

"Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal.

Dentre as coisas que mais detesto, duas podem ser destacadas: ingratidão e pessimismo. Sou incuravelmente grata e otimista e, comemorando quase 2 anos em Lisboa, sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis que existem aqui - embora pareça-me que muitos nem percebam.

Não estou dizendo que Portugal seja perfeito. Nenhum lugar é. Nem os portugueses são, nem os brasileiros, nem os alemães, nem ninguém. Mas para olharmos defeitos e pontos negativos basta abrir qualquer jornal, como fazemos diariamente. Mas acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se.

Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Os franceses aprenderiam que aqueles pratos com porções minúsculas não alegram ninguém. Os alemães descobririam outros acompanhamentos além da batata. Os ingleses aprenderiam tudo do zero. Bacalhau e pastel de nata? Não. Estamos falando de muito mais. Arroz de pato, arroz de polvo, alheira, peixe fresco grelhado, ameijoas, plumas de porco preto, grelos salteados, arroz de tomate, baba de camelo, arroz doce, bolo de bolacha, ovos moles...

Mais do que isso, o mundo deveria aprender a se relacionar com a terra como os portugueses se relacionam. Conhecer a época das cerejas, das castanhas e da vindima. Saber que o porco é alentejano, que o vinho é do Douro. Talvez o pequeno território permita que os portugueses conheçam melhor o trajeto dos alimentos até a sua mesa, diferente do que ocorre, por exemplo, no Brasil.

O mundo deveria saber ligar a terra à família e à história como os portugueses. A história da quinta do avô, as origens transmontanas da família, as receitas típicas da aldeia onde nasceu a avó. O mundo não deveria deixar o passado escoar tão rapidamente por entre os dedos. E se alguns dizem que Portugal vive do passado, eu tenho certeza de que é isso o que os faz ter raízes tão fundas e fortes.

O mundo deveria ter o balanço entre a rigidez e a afeto que têm os portugueses.

De nada adiantam a simpatia e o carisma brasileiros se eles nos impedem de agir com a seriedade e a firmeza que determinados assuntos exigem. O deputado Jair Bolsonaro, que defende ideias piores que as de Donald Trump, emergiu como piada e hoje se fortalece como descuido no nosso cenário político. Nem Bolsonaro nem Trump passariam em Portugal. Os portugueses - de direita ou de esquerda - não riem desse tipo de figura, nem permitem que elas floresçam.

Ao mesmo tempo, de nada adianta o rigor japonês que acaba em suicídio, nem a frieza nórdica que resulta na ausência de vínculos. Os portugueses são dos poucos povos que sabem dosar rigidez e afeto, acidez e doçura, buscando sempre a medida correta de cada elemento, ainda que de forma inconsciente.

Todo país do mundo deveria ter uma data como o 25 de abril para celebrar. Se o Brasil tivesse definido uma data para celebrar o fim da ditadura, talvez não observássemos com tanta dor a fragilidade da nossa democracia. Todo país deveria fixar o que é passado e o que é futuro através de datas como essa.

Todo idioma deveria carregar afeto nas palavras corriqueiras como o português de Portugal carrega. Gosto de ser chamada de miúda. Gosto de ver os meninos brincando e ouvir seus pais chama-los carinhosamente de putos. Gosto do uso constante de diminutivos. Gosto de ouvir “magoei-te?” quando alguém pisa no meu pé. Gosto do uso das palavras de forma doce.

O mundo deveria aprender a ter modéstia como os portugueses - embora os portugueses devessem ter mais orgulho desse país do que costumam ter. Portugal usa suas melhores características para aproximar as pessoas, não para afastá-las. A arrogância que impera em tantos países europeus, passa bem longe dos portugueses.

O mundo deveria saber olhar para dentro e para fora como Portugal sabe. Portugal não vive centrado em si próprio como fazem os franceses e os norte americanos. Por outro lado, não ignora importantes questões internas, priorizando o que vem de fora, como ocorre com tantos países colonizados.

Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal.

Essa sorte, pelo menos, nós brasileiros tivemos."