Exercício de Poesia

Lembro que Manoel de Barros diz que na poesia as palavras deliram, concordei e delirei junto com seus exemplos e explicações onde cita a ignorância como uma de suas descobridoras.

Antes de Manoel, eu tinha que a poesia não era a palavra estar em lugar diferente, mas a gente, o poeta, eu tinha a poesia não a partir da palavra, mas a partir do poeta, como o menino que aperta parafuso no vento, pra mim, a desfunção lírica foi importantíssima, mas até então eu pensava apenas na desfunção social, o poeta deveria ser aquele que está onde ninguém está para que dali, pudesse passar novas interpretações do mundo.

Onde ninguém está no mundo por exemplo, é dentro de um lixeira, então o poeta deveria se postar ali e se concentrar a ponto de ser e ter aquele lugar em seus escritos, assim, dando ao leitor a oportunidade de acompanhá-lo.

Assim pensando me coloquei dentro de uma roupa barrelada, chapéu calça camisa, passei a interpretar uma figura que viesse se apossando daquele meu visual. Era feira rippie de Belo Horizonte, as pessoas estão lá, acostumadas a todo tipo de figura o que presume que não chamei tanta atenção, mas meu objetivo não era me sentir diferente de mim e através dos pensamentos de meu personagem encarnado, dizer aquilo que eu jamais dizia.

Sentei no meio da rua, escrevi chorando ao solo de um flautista peruano, passei pelo samba de corcunda preponderante entre outras circunstâncias para que dali saíssem palavras extras eu. Uma cena interessante que protagonizei foi quando deparei e me pus a escrever encarando um pastor amparado por aparatos tecnológicos de primeira linha e eu de papel e caneta, achei interessante a química e palavras muitas transbordaram de meus escritos.

Hoje, num mundo cada vez mais padronizado pela globalização, a poesia se rarifica, mas qualquer diferença como ter barro na roupa te faz poeta, é um ótimo exercício de poesia ser aquilo que ninguém está sendo e aí vai uma dica, poucos estão sendo poetas.

Obrigado!