Um pouco mais de vida

É incrível como a mudança de hábitos nos revigora. Dormir mais cedo, mesmo amando adormecer lá pelas tantas da madrugada, pular da cama ainda sem sol, sem espreguiçar, sem postergar, sem soneca, sem nada, simplesmente abrir os olhos e levantar.

Tomar o café da manhã ao ar livre, diante do sol nascendo. Ah, que delícia! Apreciar mais um dia chegando, entendendo a metáfora disso para nossas vidas, aproveitando a vista, com uma leve brisa matinal no rosto, um nascente sol que ainda não queima, o delicioso sabor do café com leite na boca (sei que alguns não gostam, então o substituam), degustando um pãozinho doce, com uma leve reflexão sobre o valor que damos à vida.

É incrível como não aproveitamos o universo à nossa volta. Passamos pela vida como viajantes ocupados de mais para apreciar a paisagem, não turistamos, não curtimos, não sorvemos o sabor da beleza. Apenas queremos conquistar, ter, comprar, ganhar, vencer, e para quê, se não sabemos apreciar?

Perdemos a simplicidade da vida nos tornando complexos e sofisticados. Não sabemos mais qual o lugar das coisas. Então, vamos dormir tarde (e não é por prolongarmos uma boa leitura, ou vermos um bom filme, ou ainda por uma ótima companhia, de modo algum), acordamos o mais cedo/tarde possível, cansados, com dores e já com o peso da vida gritando sobre os músculos. Enrolamos até o último segundo para sairmos da cama, então começa a corrida.

Correr para o banho, para se aprontar, para sair logo, para não perder o ônibus, o trem, a carona, para não pegar trânsito, para entrar logo no trabalho. Chegamos lá correndo, já ligando tudo, comendo ali mesmo, enquanto se ajeita, já abrindo o material, e logo vem mais corrida. Correr para finalizar as tarefas, para entregar as metas, para finalizar o dia, para isso, para aquilo, mal temos tempo para comer, água, banheiro e interação. Assim termina o dia, conosco correndo para casa, para o banho, afazeres, uma jantinha e cama, para começar tudo outra vez no dia seguinte.

Nós apenas sobrevivemos para suportar toda a carga que, voluntariamente, colocamos sobre nossos ombros. Viver de verdade tem sido um prazer e luxo de poucos, nesta sociedade maluca, transviada e esquizofrênica.

Marta Almeida: 01/02/2018