A claridade que não dói os olhos

Lembro de uma vez que brigamos por que eu não queria entrar na piscina do seu condomínio e você achava que eu devia fazer menos o papel da certinha. Eu não deveria ter me incomodado com o título porque não há nada de feio em me abster, sempre que posso, daqueles pequenos - mas ainda corruptos - atos de fugir às regras. Mas o que me incomodou foi a intenção que você deu, insinuando talvez que eu representava ou, no mínimo, que eu nunca saía da minha zona de conforto. Como se sair da zona de conforto significasse necessariamente fazer algo fora da lei. A lei do condomínio, eu sei. Mas ainda sim uma lei. Enfim. Eu demorei a entender que na verdade, as minhas atitudes corretas insultavam você. Insultavam sua personalidade cheia de conceitos inadequados – para ser gentil. Eu demorei a entender que sair da minha zona de conforto significava sair dali. Do seu lado. Dói quando você abre o olho. Eu tinha certeza que seríamos uma história de “para sempre” e ainda hoje me pergunto o que foi que me convenceu disso quando nossas diferenças foram sempre tão gritantes.

Eu busco coisas solares.

Hoje, sou grata ao universo por estar tão certa das minhas escolhas em relação a nós. E para ser honesta, sequer lamento o período que passei em surtos tentando te anular de mim. Um longo período, eu admito. Mas foi como que o necessário para estar aqui agora, falando tão abertamente de você, sem o receio que suas próximas palavras possam me reduzir a um átomo. Foi o necessário para hoje não sentir absolutamente nada.

Obrigada por ter ido embora, e me condenado a toda essa liberdade.

.

.

*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)