TEMPO, ATENÇÃO E A TECNOLOGIA

O dia continua com 24 horas. Isso permanece apesar das mudanças acontecerem cada vez mais céleres. Muitos jovens de hoje não sabem o que é um telefone com disco, uma televisão de tubo, um retroprojetor, um mimeógrafo, um disquete, uma máquina fotográfica com filme. Tudo foi substituído por outros produtos mais modernos e eficazes.

Hoje poucos usam o relógio de pulso, calculadora, agendas, visto que o celular, ferramenta que “agora faz parte da máquina humana”, permite que se veja a hora e nele é possível fazer cálculos, anotações de compromisso, transações financeiras, registros fotográficos, além de favorecer a comunicação em tempo real e gravar até conversas indevidas. A tecnologia e a internet vieram facilitar a vida das pessoas. Mesmo assim parece que o nosso dia tem menos horas.

Argumentando a vida corrida e tão atarefada poucos se propõem a ler as 1.396 páginas do livro “Conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas ou a obra “Os Miseráveis” de Vitor Hugo com 1.511 páginas, preferindo textos mais rápidos, principalmente os livros de contos e crônicas. O jornalista Leandro Begouci explica que é importante anunciar logo no início de qualquer publicação a sua essência, para saber se o assunto é do interesse do leitor. As teses de doutorado que tem de 200 a 400 páginas informam no começo o resumo do trabalho. Já os livros apresentam geralmente na orelha uma síntese do seu conteúdo para que o leitor não desperdice minutos de seu dia precioso em algo sem proveito, ou melhor, com o que não corresponda seu interesse.

A internet ajuda as pessoas economizarem o tempo através das inúmeras ferramentas que disponibiliza. De casa é possível acessar bancos e fazer transações. O escritor americano Nicholas Carr polêmico pensador da era digital, trata do outro lado dessa importante tecnologia ao enfatizar que ela vicia o não raciocínio, minimiza a capacidade de memorização e a atenção das pessoas, substituindo a memória individual pela artificial. Assim, não é mais necessário aprender se é mais prático acessar. As informações que antes eram guardadas na memória humana agora estão disponíveis na memória tecnológica.

No livro a “Geração Artificial” de sua autoria ainda responsabiliza a internet pelo fato de impedir raciocínios longos e dificultar a concentração, uma vez que inunda constantemente os cérebros de tantas informações, prejudicando o poder da atenção recurso escasso que tem a ver com o tempo das pessoas, algo precioso que não se pode comprar para estender o dia. Já o neurologista Paulo Breinis entende haver exagero em todas essas conclusões partindo do princípio que os níveis de atenção variam de acordo com o que a pessoa gosta o que lhe agrade e lhe satisfaça.

O tema em discursão é polêmico e há controvérsia, mas a verdade é que o grande desafio dos professores e palestrantes é ser objetivo em suas falas para conseguir a atenção do interlocutor. Pesquisas desenvolvidas pelo filósofo e palestrante Renato Bernhoeft indicam que até certo tempo a atenção era mantida por 40 ou 50 minutos. Atualmente em 20 minutos aproximadamente cai a atenção, a compreensão e o entendimento do que está sendo exposto. Assim, uma aula que tem duração de 60 minutos deve ser diversificada e participada para ser bem sucedida. Também com o objetivo de se adaptar a essa diversidade de atenção os sermões das atividades religiosas foram reduzidos. Nos Estados Unidos as missas e as pregações dos pastores protestantes passaram a ter duração mais curtas.

No mundo dos negócios a publicidade para conseguir êxito não pode ser extensa. A preocupação em conseguir a atenção das pessoas no mercado tão competitivo é um desafio. A falta de concentração diante daquilo que pretende fazer é comum em todas as idades. Brown observa que o Transtorno de Déficit de Atenção – TDA parece atualmente atingir além dos portadores da síndrome.

O dia tem 24 horas para todos, não importa tratar-se do Papa, do Presidente da República, do estudante ou do ocioso. Por mais poderoso que alguém seja não poderá acrescer esse intervalo. É importante saber administra-lo de forma que saiba também controlar a atenção para aquilo que for importante.

“Mesmo os mais perfeitos espíritos terão necessidade de dispor de muito tempo e atenção”. (René Descartes).

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ATHAYDE, Phydia. Bem- vindo a Economia da Atenção Aula de Leandro Begouci¹Disponível em. http://academiadraft.com/a-economia-da-atencao/. Acesso em: 2018.01.06

Bernhoeft, Renato.Valor Econômico Disponìvel em http://www.valor.com.br/carreira. Acesso em: 2018.01.2018

BREINES,Paulo. Professor, Neurologista e palestrante.

BROWN, T. E. Transtorno de déficit de atenção: a mente desfocada em crianças e adultos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

CARR. Nicholas, A Geração Superficial: o que a internet está fazendo com nossos cérebros, tradução de Mônica Gagliotti Fortunato Friaça, Rio de Janeiro, Agir, 2011.

TEIXEIRA, J.F. O cérebro e a internet. Filosofia: ciência e vida, p. 52-53, 10 fev. 2014.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 07/02/2018
Reeditado em 07/02/2018
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