Imagem: arquivo pessoal



 
________“Marina, até onde você iria por amor?”
 
A provocação que Tamires Júlia Amaral, autora teen aqui da cidade, me escreveu a título de autógrafo, na primeira página de seu livro Ele é um anjo, na noite do lançamento, me pegou de surpresa. Não teve jeito, voltei pra casa com a indagação desta jovem, que aos dezoito, já se aventura no mundo das Letras e me deixa cabreira. E como me livrar da cabreirice?

Sim, até onde eu iria por amor? Até onde as pessoas vão por amor? Se há resposta para tal inquirição, acredito que passa mais ou menos pela premissa: depende do grau do amor. E amor é graduado? Outra pergunta que deixaria qualquer um encasquetado. Será que existem amores em diferentes graus, ou o amor existe ou não, tudo na base do oito ou oitenta?

Um trecho de Memórias de um Sargento de Milícias diz que só existe um amor verdadeiro: o derradeiro. Somente aquela pessoa que você amou no fechar das cortinas, valerá o atestado de autenticidade sobre a difícil e complexa arte de amar. E que fique claro, bem claro, que amar é realmente uma arte, e das mais complicadinhas: a simplicidade, a gente inventa pra não perder a coragem de se lançar à aventura de amar.

Então, até onde se vai por amor? Beto Guedes, coautoria de Fernando Brant, canta numa letra que "O medo de amar é o medo de ser livre. Faz todo o sentido. Amar envolve riscos, e quem tem medo de correr riscos não irá muito longe por amor. Na verdade não chegará à porta da frente, quem quiser, antes de se abrir para o amor, medir os significados que ele traz. Abraçar diferenças exige total desprendimento. E não é nada fácil abrir mão de si, para acolher o outro, com seus jeitos, ideias e gostos diversos. E vice-versa, claro: ser aceito pelo outro também é outra batalha. Só mesmo com muito amor.

E o amor em diferentes graus? Mais ou menos assim: um amor meio raquítico, sem pilares de sustentação não iria muito longe. Certamente ruiria na primeira tentativa. Acesos os primeiros sinais de alerta, já estaria aprontando a mochila e partindo pra outra. No entanto, se o amor se ata por laços fortes, a coisa muda de figura. É a resistência dos laços que gera a perseverança, a paciência, a aceitação e a renúncia. Nesse caso, o amor merece que se vá até as últimas consequências.

Quando alguém se apaixona, fica bobo, fica louco, perde a razão. Os versos de Cléo Galante, há muitas décadas, talvez se encaixem mesmo nos casos da paixão. O psicólogo e neuropsicólogo Fábio Roesler, diz que "O amor, normalmente, está relacionado a um sentimento bonito, estável e sereno, mais controlável e menos temido, enquanto a paixão nos invade, domina nossos pensamentos, é tida como arrebatadora, turbulenta e, muitas vezes, sofrida". Até onde é paixão, até onde é amor, e até onde os dois se confundem? Por fim, até onde se vai em nome de cada um?

Não sei no caso da paixão, mas “Até onde você iria por amor?” é o tipo de pergunta que não se responde sozinho. Porque o amor só acontece numa relação de correspondência. Amor unilateral é amor desperdiçado. Então, os que se amam, que se perguntem juntos: Até onde iríamos por amor? Se forem ao fim do mundo, que sigam curtindo as calmarias e  enfrentando as tempestades, sendo felizes. Se forem até a esquina, que se despeçam já na porta, porque certamente aí não vale a pena.