"Sangre en la arena" - Um Miúra !

Por que me levam para a "arena" , só porque sou um "miúra" ? Que culpa tenho de ser um touro de raça nobre, criado nas melhores "ganaderías" de Andaluzia ? Me deram do bom e do melhor, os melhores pastos , me isolaram do "bicho" homem desde que nasci, para que não o amasse, se esquecendo que o Deus dele é o mesmo que o meu ...

Domingo em Madrid, "La Plaza en fiesta, o "passo doble" tocado pela banda anuncia a próxima "faena" , a minha ...e nem sei o que acontece lá fora, estou nervoso, fora do meu mundo, perdido completamente ao meio de um clamor que desconheço, a adrenalina sobe dentro dos corredores de madeira, e quando avisto a luz da liberdade, corro desesperado de encontro a ela, me debatendo , batendo com o flanco nas paredes deste estranho lugar, só quero sair...

Os homens montados a cavalo vem me provocar, me machucam com as lanças , e grito de dor...Que lhes fiz, quem são eles ? Meu dorso sangra, e reajo pela força da minha raça, afinal , sou um "miúra", longe do rebanho, nem sei o que faço aqui !!! Invisto furioso e ferido sobre os cavalos, e os pego por baixo, fazendo-os empinar , eles estão de olhos vendados, para não fugirem de mim, pois sabem quem sou, os cavalos não temem o que não veem, e não nasci para me entregar .

Outros vem me "pinchar" com "banderillas" coloridas, pelo costado, traiçoeiros seres que me ferem , covardes homens que me fazem sangrar...Que lhes fiz para isso ??? Sou apenas um touro, mas um "miúra", criado nos melhores pastos, longe dessa gente estranha e maldosa...!

Meu corpo dói e sangra, sem entender, a minha raiva sobe ao limite , um animal de raça bravia, do campo, nada mais ...mas eles não entendem, me dão e me tiram, na dor do meu corpo negro e da alma dos ancestrais...Por que ?

Um homem " en traje de luzes" , me olha fixo me saudando, vejo que ele me ama , em um amor estranho que azeda a alma, sou eu ou ele, que tem uma capa vermelha que me provoca, e me tonteia quando penso em pegá-lo..." Que arte é essa ? ", quem é esse homem de espada, que quer me matar ? Que lhe fiz ,nem sequer o conheço ? Pobre homem...mata a si mesmo, quando tenta me matar...!

Tocam os clarins, rufam os tambores, o público silencia " en la arena", e parto decidido sobre o seu corpo magro, entre o brilho do sol e o vermelho do manto, me fere fundo e sinto a dor da morte , mas o toco perto do coração e ele sangra ao meu lado, e nos olhamos feridos , lado a lado, e por um único instante , o último ...o perdoo, no perdão que só um "miúra" pode conceder, e ele entende e derrama uma lágrima por nós dois .

Nota: Já estive em uma tourada aos sete anos, com o meu avô .

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 16/02/2018
Reeditado em 17/02/2018
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