ELA É LÚCIDA?

Acordei com a agenda cheia. Mesmo assim não atropelei minha rotina. Devagarinho fui dando conta dos afazeres. Tive até tempo de apreciar a chuva fina que se despedia para dar lugar ao sol ansioso para aquecer o solo encharcado da água que caiu do céu insistentemente nesses últimos dias.

Enfim consegui sair de casa. Seguindo a ordem da agenda adentrei na repartição para desenrolar minha primeira pendencia. Na minha frente uma senhora que embora aparentasse idosa pelos maus tratos tinha alguns traços joviais. Ela estava enrolada. Mexia na maquina ia e voltava e não desocupava o lugar. Até que se dirigiu a mim e pediu para que eu colocasse o meu CPF porque a máquina estava pedindo e ela não lembrava o dela. Eu falei que não poderia fazer isso dando como desculpa boba que a empresa que eu trabalhava não permitia. A pessoa que estava na fila atrás de mim resmungou e disse irritada: eu ponho o meu minha senhora. Olhou para mim com desdém me denominando de palhaço, imprestável e dizia: o que custa fazer um favor?! Um profissional do estabelecimento dirigindo-se a minha pessoa enfatizou que a minha atitude estava correta porque aquela senhora estava fazendo compras para a casa de bandidos que moravam no morro ali perto e era melhor evitar problemas. Vai que a polícia procura identificar pelo CPF as pessoas que tinham ligação com o grupo. A criatura que emprestou seus dados ficou agoniada querendo desmanchar o mal feito agora sem jeito. Fiquei com tanto dó da moça que até perdoei a denominação de palhaço que ela me deu.

Continuando a minha saga cheguei ao cartório, o segundo na lista da agenda. Tirei a senha, aguardei minha vez e depois de algum tempo comecei a ser atendida. Do meu lado, no guichê bem próximo um velhinho de tão humilde nem sentou na cadeira. De pé mesmo com uma montanha de papel na mão falava tão baixo que foi difícil a atendente entende-lo. Depois d´ele esvaziar o saco de plástico e espalhar tudo sobre o balcão compreendeu-se que ele queria passar uma procuração para receber a pensão de sua santa mãe. A funcionária aliviada por agora saber o que o senhor queria perguntou:

- Sua mãe é lúcida?

- Não é Lourdes é Luzia.

A senhora repete.

- Sua mãe é lúcida?

- Não ela não tem essa doença.

Avexada com aquela situação pensei alto. Ele não sabe o que é lúcida. Ouvido minhas palavras a atendente perguntou:

- Sua mãe tem boa memória? Entende tudo direitinho? Lembra-se de tudo?

- Não, não. A cabeça dela não é boa. Não sabe nem mais o nome dos filhos.

Pronto. Agora a resposta foi dada.

Não sei de dar para rir ou para chorar. A história é interessante, mas com doe ver tanta gente analfabeta por ai. Precisamos preparar os atendentes para uma clientela desse tipo já que poucos tiveram a oportunidade de estudar e aprender.

Pois bem, cumpri toda a agenda. Finda o dia e eu com a consciência do dever cumprindo. De interessante mesmo só esses dois acontecimentos. Merece uma reflexão. Pense antes de ser solícito. Tenha paciência com as pessoas. Transmita mensagens claras e use vocabulário a altura de seu interlocutor.

Valeu!

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 27/02/2018
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