ANSIEDADE E PICO DE PRESSÃO

“Engole o choro!”, uma recordação da infância, quando minha mãe me dizia pra deixar pra chorar quando ela morresse. E ela morreu. E eu chorei rios. Eu choro rios, mesmo passados vinte anos.

Depois veio a voz do mundo com a mesma frase: “Engole o choro!”. E tudo o que eu mais queria (quero) era chorar todos os meus dissabores, as angústias e o medo.

Essa preocupação constante com o porvir, com o que eu tenho que fazer, com o que eu tenho que saber... essa preocupação constante com um e com outro; minhas alucinações; as perturbações do sono; as fantasias que o medo me faz criar, temendo que algo ruim aconteça ou que algo dê errado; minha pressa, antecipando tragédias imaginárias.

Ano passado “ele” também partiu. E outra vez me vi sem saber lidar com a perda. E sigo lamentando a falta das pessoas que podiam estar aqui. E me sinto só, ainda que eu tenha uma família e alguns amigos. É muito difícil explicar uma dor que você mesmo não entende.

Não estou sabendo existir. Estou ansiosa... estou nervosa... estou com medo. Em pânico!

E o que me ajudaria? Chorar! Porque o choro me faz visível, ainda que eu me envergonhe do vexame, sendo levada às pressas a um hospital para verificação da pressão arterial e atendimento na emergência. O diagnóstico? Ansiedade! (o que explica o pico de pressão e a necessidade do Diazepan).

Diante do choro desesperado, as pessoas curiosamente perguntam o que houve. Como explicar? As pessoas não têm sensibilidade alguma para essa dor. Ela é minha! Mas algumas me dizem, tentando ajudar, pra ser forte, pra elevar o pensamento a Deus e seguir. Nem respondo, mas intimamente faço minhas considerações, as quais não me atrevo tornar públicas temendo os prováveis julgamentos.

Eu preciso cumprir prazos, realizar minhas tarefas, ser uma mãe exemplar, uma profissional qualificada, uma boa pessoa... Mas o medo me assombra. E eu temo por qualquer coisa. Qualquer coisa! E tenho mais vontade ainda de chorar, porque o choro... o choro lava a alma.

Mas recordo que é preciso engolir o choro, uma imposição social. Afinal, devo ser uma mulher forte, equilibrada, manter o controle das emoções...

Entretanto, o pranto vem, inevitavelmente, porque não há outro meio de sobrevivência. E corre aqui dentro, oculto. E corre me lavando por dentro, sufocando o pouco que sou, a acidez das lágrimas danificando meu estômago, que reage mal, causando-me uma terrível dor física. Lágrimas que corroem o coração, cansado de sofrer, gritando (em silêncio) por socorro.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 04/03/2018
Reeditado em 05/03/2018
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