Seu Jony Vai às Compras

Seu Jony Vai às Compras

Sabem o que acontece quando seu pai, com uma prole de sete filhos, trabalha em armazéns e na seção de abastecimento por trinta e cinco anos?

Sua casa terá uma farta despensa, com arroz, feijão e tudo o mais, em sacos de sessenta quilos. Laranja? Manga? Papai comprava em centos. Até hoje sou fã do biscoito maisena, a fábrica Alcobaça lá do bairro Aribiri, chegava a casa em latas de dez quilos, a granel, depois reutilizadas para o estoque de cereais.

Antes da Ceasa e dos grandes atacados prosperarem, nosso pai Jony já era um atacadista caseiro praticante.

Pãozinho francês para o fim de semana, lembram que as padarias fechavam? Dois embrulhos com dezenas. Quando a carrocinha do leite buzinava na rua, um filho já a esperava com a leiteira, eram dois litros diários.

Ele apreciava um charque, um bacalhau, uma carne seca salgada, era proibido tirar o sal em excesso. Carne salgada se come salgada, frita ou ensopada, preferencialmente com abóbora. São Mateus, sua terra natal, é famosa pelas morangas.

A culinária capixaba tem origens na tradição pesqueira, com forte influência das culturas indígena e negra.

Em casa não faltavam mandioca, banana da terra, (todo dia eu acordava com o som de chuva, era a fritura da banana para a marmita), o pescado e os frutos do mar. Sempre um peixe para moqueca, outro para fritar; badejo, robalo, cação, sarda amarela, os prediletos, e os pitus, siris, caranguejos, lagostas. Os goiamuns, grandes caranguejos azuis dos mangues, hoje com a coleta proibida, eram cevados por dias antes de cozidos.

Hoje é divertido imaginar nosso prato, arroz, feijão, legumes e um caranguejo, uma lagosta ao lado.

Eram encontrados no mercado da Vila Rubim, aos sábado, às vezes, eu o acompanhava nessas compras. O que jamais faltava era uma melancia de, no mínimo, doze quilos, a ser ritualmente fatiada e apreciada após o almoço dominical. O corte, por ele orquestrado e executado, era raso. Deixava a melhor parte, o miolo, para o próprio, o maior fã da fruta.

Depois um carregador com num cesto gigante na cabeça, andando a passos curtos e rápidos, levava tudo a casa. A melancia; o saco de laranjas; dúzias de bananas prata, ouro, maçã; legumes; verduras; pescados e carnes. Quilos e mais quilos de alcatra; patinho; carré suíno e um frango, vivo.

O total, acredito que passava fácil de sessenta quilos. Quase dois quilômetros do mercado até a nossa casa, finalizando com cinquenta e oito degraus de escada e um litro de água gelada.

Certo dia uma amiga em visita, avistou este herói subindo a escadaria. "Lá vem o verdureiro!". Não é não, é o Seu Oswaldo, com a nossa feira semanal!

Jmmotta

13/03/18

Jônice Motta e Motta
Enviado por Jônice Motta e Motta em 15/03/2018
Reeditado em 15/03/2018
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