Saudade de mãe

Eu me lembro que a tia Marica mandava erguer a tampa do caixão para eu ver o rosto da minha mãe morta. A tia Josefa me apertava nos braços e chorava comigo um choro meio cunvulsivo como se tudo estivesse acabado. O quarto grande da casa do meu avô, estava superlotado de muita gente da família como também amigos e vizinhos. Eu não sabia que ali eu estava sendo ferido pela orfandade e que a morte acabava de matar a minha querida mãe que me deixava só neste mundo de Deus e do Diabo. Quem menos falava na morte da minha mãe era tia Ana Rosa porque ela tinha pena de mim e não comentava nada sobre o assunto para não me ferir. Aos dois anos fiquei orfão de mãe e de pai também, porque meu pai foi morar com outra família e eu não tive nenhum contato com o meu genitor que se casou segunda vez fazendo outra familia e depois ficando só e bem longe de mim. Eu encontrei nas minhas tres tias, tres mães autênticas embora sentisse a falta da minha mãe bilógica que nunca me deu um abraço verdadeiro e nem um cheiro gostoso que eu sentisse o afeto materno. Quando eu entrava no quarto que minha mãe havia morrido, as lágrimas me vinham aos olhos e eu chorava me lembrando dela e dos meus irmãos. Faço parte de uma prole de seis filhos, no entanto eu sou o mais novo e fiquei triste para sempre por não ter ouvido nunca a voz da minha saudosa mãe e nem ter recebido dela um conselho ou outro qualquer estímulo. Quando a tia Josefa falava de minha mãe, eu chorava e perguntava a ela quando a minha mãe voltava e ela me respondia que a minha mãe tinha morrido e não voltaria mais para o nosso meio. A tia Ana me dizia que a minha mãe era uma pessoa boa, era uma senhora de grande cordutra e uma esposa exemplar. Os meus parentes maternos nunca gostaram de falar de minha mãe, com exceção do tio Luis que me queria muito bem e procurava falar da sua irmã mais nova, que morreu aos trinta e oito anos de idade. Assim fiquei sabendo muita coisa da minha amável mãe através deste tio materno que me tinha um respeito enorme. Eu sempre senti a ausência do beijo carinhoso de minha mãe, e de um conselho bom e sincero. Como filho orfão não posso esquecer o golpe tirano que a morte me deu aos dois anos de idade. Hoje aos sessenta e tres anos, ainda me lembro do momento da morte de minha mãe no quarto em que ela estava sendo velada. O quarto do velório ficou gravado na minha memória de artista atormentado, entretanto genial. Finalizo a minha crônica quase chorando como se a minha mãe estivesse presente e me dando um abraço forte.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 15/03/2018
Reeditado em 26/03/2018
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