PALAVRAS E IMAGENS

Sou a arte em seu sentido mais complexo perambulando nas vielas gélidas do meu intrínseco e impetuoso ser. Não sou mais que o silêncio nas oscilações mais desalmadas que eu mesma crio. Mas, o que é mesmo o silêncio? Acredito que o silêncio seja o próprio vácuo de emoções, mas sei que falo de emoções externas, as que os demais vêem, pois o silêncio interior é sufocante, inquietante. O silêncio interior em mim seria a própria morte.

Será que também não passo de uma imagem que retrata a realidade? Ou será que sou palavras proferidas no intuito de representar sentires aos quais conheço e até mesmo os que desconheço? E o que mais vale: as imagens ou as palavras?

As imagens são uma espécie de representações, retalhos, recortes da própria realidade; as palavras por sua vez são construções culturais que possibilitam expelir, criar, expressar e renovar do mesmo modo a realidade. O que será mais confiável: as palavras ou as imagens?

As palavras como convenções, múltiplas vezes, são falhes na expressão daquilo que denominamos sentimentos. Milan Kundera, escritor tcheco, em “O livro do riso e do esquecimento”, tenta explicar o significado da expressão LÍTOST, que no português o mais próximo seria a expressão dó. Não há sentido completo. O escritor, Milan Kundera, expressou-se dizendo, ainda, que não consegue entender como outros povos conseguem compreender a alma sem entender o verdadeiro sentido de lítost. Assim, também é a expressão saudade no português, que não tem significado exato em outras línguas. Não há ser humano que entenda o valor da saudade. Então, as palavras são completas e suficientes para que eu as seja?

Já as imagens, como recortes, representações do que somos, do que existe, valem mais do que muitas palavras? As imagens são fidedignas ao ponto de conseguirem externalizar tudo aquilo o que as palavras não conseguem? Acredito que não. Enxergar, ver algo expresso não significa certeza ou externalizações completas. Uma fração não é um todo. Ninguém é metade, eu não sou. Então, as imagens são suficientes para que eu as seja?

Sou, assim, a arte da junção de palavras e imagens. Ambas não são antagônicas, são constituintes de um ser completo. Um ser completo consciente de sua incompletude.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 15/03/2018
Reeditado em 19/03/2018
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