TERAPIA: CHIQUE OU CHOQUE?

Depois de muito tempo tentando resistir ao divã, onde as pessoas passam exatos 60 min por semana, se lamentando para uma “profissional do ramo da cuca afetada”, resolvi deixar meu preconceito de lado e partir para a famosa terapia.

Antes mesmo de tomar tal decisão, minha opinião sobre a “hora paga pra contar problemas e neuras”, era de que certamente eu ouviria de uma psicanalista freudiana por exemplo, que meu problema era um só: Como mulher, eu sinto inveja do homem, que por sua vez possui um membro “anexo” e eu não. Sinceramente eu me sinto muito feliz com o fato de não possuir o tal membro tão citado e recitado por ela. Principalmente quando me lembro de ter avistado esse mesmo membro várias vezes em movimento, pendurado em alguém que acabava de sair do banho, sem toalha. Famoso FALO! Por isso que FALO: Coisa estranha, bizzarra. (mas de grande valia). Se fosse um psiquiatra, eu relataria toda a minha infância, e por mais normal que ela tivesse sido, ainda assim ele me receitaria antidepressivos, anti-ansiolíticos, anti-compulsivos, anti-insônias, anti-raivas, anti-invejas, anti-ciúmes, anti térmicos, anti-transpirante, anti tudo o que eu carrego de bom ou de ruim dentro de mim, passando a viver feliz da vida, claro, se não esquecesse do comprimidinho diário da felicidade. Caso contrário, seria uma suicida em potencial.

Certa vez fui me consultar com uma figura! Mulher de fibra! Pra quem tem peito mesmo! Nunca vi tamanha cara-de-pau! A “Dona Insensível Freud” se superou ao me cobrar 100 reais por uma consulta em que só eu gastava. Meu dinheiro, minha saliva e minhas lágrimas! E a cada “verme”, “filho da mãe”, “problemas sexuais” que eu citava, percebia uma certa indignação da parte dela, e da sobrancelha que se erguia sutilmente. Deve ser porque eu tinha 18 anos, e já sofria do mal do século: traição. Inesquecível Dra. Ineida. Consultório muito chique. Relatei minha vida às pressas, claro, afinal 60 minutos não é tempo. Ao final da consulta, finalmente ouvi a voz da infeliz:

- Tome, pegue este lenço (Chiffon). Nos veremos na semana que vem!

Não preciso dizer que demorei anos pra esquecer tal dia. Isso sim é traumatizante! E agora? Quem curaria meu trauma de uma psicóloga? Outra louca? Tudo bem, sem dramas, isso é uma crônica, não uma novela. Anos mais tarde fui consultar um dos melhores psiquiatras da cidade. E ele estava curioso:

- Mas Mariana, eu posso te indicar uma psicóloga, terapeuta, seu caso não é clínico.

- Eu sei doutor, nem quero tomar remédios. Mas não gosto de psicólogas.

- Curioso..mas por que?

- Porque eu gostaria de ouvir alguém. Pagar só pra falar eu posso muito bem conversar com a Duda, minha cachorra. Se bem que acredito que ela seja mais doida que eu, já que come cocô. Ainda não cheguei a esse ponto.

- Por que psiquiatra Mariana?

- Doutor, quero me abrir com um psiquiatra bom. De preferência um homem, um senhor de idade (ops), experiente, estilo personagem de Sidney Sheldon.

- Por favor Mariana, defina.

- Doutor, se eu entrasse nesta sala e começasse a ter um acesso de ninfomania, se eu começasse a falar só baixaria, o senhor nem piscaria, certo? Esses são os psiquiatras dos livros do Sidney. Que não se chocam com as pessoas.

Claro que eu sabia que dificilmente um psiquiatra se chocaria, ainda mais comigo, que sou um doce de pessoa.

De repente me senti um prato cheio para ele e suas pesquisas sobre pessoas bizarras. E não é que eu estava certa? Aceitou na hora tratar da minha cuca afetada, sem remédios.

Levei a terapia adiante durante dois meses! E tive bons resultados: consegui terminar com meu namorado, melhorar meu astral no emprego, na família e até emagrecer. Mas ao final do tratamento senti uma certa raiva por concluir que quem realmente precisava de terapia era o louco do ex, e não eu.

Agora chegando nos dias de hoje... resolvi fazer! Motivos? Não acreditava que tinha tantos assim, mas segundo a doutora, teremos que nos encontrar semanalmente, e com uma certa urgência (sem ofensas). Ao entrar na sala, já me senti extremamente à vontade. Não sei se por ela falar a mesma língua que eu, ou se pela decoração do ambiente, que lembrava muito a sala da minha casa: laranja!

Levei 40 minutos para contar o que estava me levando até ela. A cada interrupção que ela fazia, eu quase chorava de alegria! Gente! Ela está falando comigo! Ela é humana! Ela fala a língua dos mortais! “TRANSAR”, “DAR”, “PINTO”, “AQUELE FILHO DA PUTA”, “CHEFE CORNO”, “CELULITE”, “ANFEPRAMONA”, RESSACA”, “BEBIDA”, “TESÃO”. E gente! Ela não se assusta com palavrão de jeito nenhum! CARALHO! Demais! Gente, ela não tem papel Chiffon na mesa dela! PUTA QUE O PARIU! Gente! Onde eu estava? Que curso essa mulher fez?

Fechado! Terapia de choque! Sem choques!