UM PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO

Um homem do século um antes do nascimento da maior personalidade da historicidade humana saiu da região onde nasceu e viveu por toda a vida e foi para macedônia.

Havia tido contato com um macedônio contemporâneo e, ainda que truncado, conseguia se comunicar em fenício, entretanto, chegando naquele país, não conseguiu se comunicar com clareza e, assim, passou por transtornos ate que se encontrasse.

A história que se traz a luz, na realidade, não se passou no século um antes do nascimento da maior personalidade da historicidade humana, mas em pleno século vinte e um; acompanhe-se...

Antes de adentrar a história propriamente dita, permita-se um breve explicativo sobre a necessidade de se ter uma segunda língua a titulo de opção.

Muito se tem falado sobre a necessidade de se procurar aprender uma segunda língua; de preferencia a universal, isto é, aquela que em qualquer parte do planeta não se está perdido.

Mas, o brasileiro, que detesta ler, nem sequer almeja se aprimorar em estudos para aprender uma segunda opção para se comunicar e, para isso, argumenta com mil explicativos.

Não gosto de inglês!

Espanhol é chato demais!

Francês é dificílimo!

Não consigo!

O aprendizado de um idioma não é tão difícil assim; o segredo é o exercitar da mente para se pensar em outro vernáculo que não seja o vernáculo mater.

Para que, de uma vez por todas, se entenda o quão importante é essa premente necessidade, vá-se a um caso real e verídico.

Desta vez não se fará o uso de nomes fictícios, mas se adotará o nome real, pelo menos de um dos personagens envolvidos na cena.

Era um domingo, dezoito de março, decimo-oitavo ano da segunda década do século vinte e um.

Depois de ir ao Supermercado Veran, apesar de residir a nada além de setecentos metros da loja escolhida para efetuar as suas compras, estando com sete sacolas, Lopes não desejou retornar a pés e, estrategicamente, aguardava por um coletivo que o deixaria a exatos vinte metros do portão de entrada de sua residência.

Como se sabe, aos domingos e aos feriados, os horários são mais elásticos e, desse modo, Lopes já estava na parada do ônibus a cerca de vinte minutos.

De repente, um negro alto, mais ou menos um metro e noventa de altura, aproximando-se, perguntou:

- Abram-se aspas – Onde morada Odête? – fecham-se aspas.

Em se tratando de português, a alocução era uma alocução, se não ininteligível, induzia-se a pensar que o cidadão estava procurando por alguém que se chamasse Odete.

Por quê?

Porque em Portugal e na Espanha, além de países que se formaram a partir da colonização por estes povos, não se tem a palavra endereço, ate porque o vocábulo – morada – é bem mais apropriado para se indicar um domicilio.

Assim, ao ouvir a alocução – Onde morada Odête? – se entendeu, preliminarmente, onde mora a Odete?

Desse modo, tentando, pelo menos tentando, estabelecer um contato mais real, que permitisse informar com maior exatidão ao indivíduo, Lopes, imaginando se tratar, a julgar pelas características físicas, de um nativo de Cuba, perguntou-lhe:

- Abram-se aspas – Donde eres tu? – fecham-se aspas.

O homem de cor gesticulou com a mão e estava claro que não entendia o espanhol e, nessas condições, não era um cubano.

Lopes se apropriou, então, do vernáculo, agora com mais de uma alocução, e perguntou:

- Abram-se aspas – Where are you from? May I help you to resolve your problem? Say me why are you searching for Odete? Who are this people named Odete? – fecham-se aspas.

A reação foi a mesma de antes; abrir os braços e indicar que não havia entendido.

Como ajudar se o individuo não respondia aos estímulos linguísticos?

Lopes tentou nova alternativa e inquiriu:

- Abram-se aspas - Parlez-vous français? Si vous parlez le français, nous pouvons parler dans cette langue. Você fala o francês? Se você fala o francês, podemos falar nesse idioma. – fecham-se aspas.

O negro respondeu:

- Abram-se aspas – Je comprends un peu du français, mais je ne parle pas très bien le français! Eu entendo um pouco do francês, mais não falo muito bem o francês !

- fecham-se aspas.

Em seguida, levando a mão ao bolso, retirou um papelucho onde estava escrito um nome de uma pessoa e outro de uma localidade.

Procurava por um homem com um nome estranho, que Lopes julgou ser um nome africano e não estava errado, e o de um bairro – Jardim Odete.

Como o homem disse que entendia o francês, ainda que não falasse, Lopes optou por explicar-lhe em francês já que o seu português era ruim, truncado e com dúbia interpretação.

Iniciou por dizer-lhe:

- Abram-se aspas – Maintenant que vous m'avez montré ce papier avec une adresse écrite et le nom d'une personne, c'est plus facile. La façon dont vous avez demandé, il semblait que vous vouliez trouver une femme nommée Odete. En fait, vous devez aller à Jardim Odete, un quartier de la ville d'Itaquaquecetuba. Agora que me mostraste esse papel com um endereço escrito e o nome de uma pessoa, ficou mais fácil. Da forma que havias perguntado, parecia que querias encontrar a uma mulher chamada Odete. Na realidade, necessita ir ao Jardim Odete, bairro da cidade de Itaquaquecetuba. – fecham-se aspas.

O negro perguntou:

- Abram-se aspas – Le jardin d'Odete est loin? O Jardim Odete é longe? – fecham-se aspas.

Lopes respondeu:

- Abram-se aspas – Vous voyez ce genre de viaduc. C'est un travail appelé Rodo Ring. L'accès au jardin d'Odete est d'environ cinq cents mètres. Está vendo aquela espécie de viaduto. Aquilo é uma obra denominada Rodo Anel. O acesso ao Jardim Odete está a cerca de quinhentos metros à frente. – fecham-se aspas.

O homem disse:

- Abram-se aspas – "On dirait que ce n'est pas si loin!" Vous pouvez y aller à pied, ce n'est pas? Parece que não é tão longe! É possível ir ate lá a pés, não é? – fecham-se aspas.

Lopes explicou:

- Abram-se aspas – En fait, il est possible d'aller à pied. Ce n'est pas si loin. D'ici à l'entrée du jardin Odete ne marche pas plus de quinze ou vingt minutes. De fato, é possível ir a pés. Não é tão longe assim. Daqui ate a entrada do Jardim Odete não se caminha por mais do que quinze ou vinte minutos. – fecham-se aspas.

O homem respondeu:

- Abram-se aspas – Je suis né au Congo. Je viens au Brésil rencontrer un cousin qui est ici depuis cinq ans. Je cherche une vie meilleure, parce que dans mon pays je vis une vie misérable. Le pays est pauvre et n'a pas de ressources. Eu nasci no Congo. Venho ao Brasil para me encontrar com um primo que está aqui já há cinco anos. Venho à procura de uma vida melhor, pois, em meu país, vivo uma vida miserável. O país é pobre e não se tem recursos. – fecham-se aspas.

Dito isto, agradeceu:

- Abam-se aspas – Merci! Je n'oublierai pas le jour où je t'ai rencontré. Muito obrigado! Não me esquecerei do dia em que lhe encontrei. – fecham-se aspas.

Lopes deu-lhe as derradeiras instruções...

- Abram-se aspas – Fais ce que je te dis. N'essayez pas de communiquer parce que votre portugais est déroutant et laisse place à plus d'une interprétation. Montrez le papier avec l'adresse et quelqu'un, même par gestes, vous apprendra comment vous rendre dans la rue que vous cherchez; ce qui n'est pas loin de l'entrée du quartier. Que Dieu vous bénisse! Faça como lhe digo. Não tente se comunicar porque o seu português é confuso e dá margem para mais de uma interpretação. Mostre o papel com o endereço e alguém, ainda que por gestos, lhe ensinará como chegar à rua que procura; que não é longe da entrada do bairro. Que Deus lhe abençoe! – fecham-se aspas.

Esta é a vantagem de se aprender outro vernáculo, principalmente se este vernáculo for o espanhol, que será oportuno em razão do bloco econômico da América do Sul e o inglês que é a língua universal.

Se o congolês falasse o inglês teria sido bem mais fácil.

YOSEPH YOMSHYSHY
Enviado por YOSEPH YOMSHYSHY em 23/03/2018
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