Toc Toc

Dentre os diversos pacientes que tenho atendido ultimamente, na clínica cirúrgica, hoje me encantei com dois casais.

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A enfermeira me chama para adiantar um paciente, uma senhorinha de 91 anos que está na cadeira de rodas; quando ela diz ser miíase a vontade era de fugir novamente desse procedimento, mas me dispus a ir pra liberá-la logo. Calcei luvas, e a enfermeira também pra me ajudar. Peguei uma Kelly e procurei naqueles pequenos furinhos na região axilar por larvas de mosca que eu torcia para não encontrar, para que não tivesse mais nenhuma. Parece que não, mas enquanto eu lutava contra um procedimento que eu não gosto de fazer, o marido da senhorinha com seus 84 anos com um carinho tão grande, com uma paciência com sua esposa, falando que já estava passando e acalmando-a. Perguntei se ele poderia assinar o prontuário para confirmar a presença deles ali, ele assinou, mas em meio disso, em tom de brincadeira, disse que estavam juntos à 40 anos. E eu em meio a achar graça deles, em meio ao procedimento, à assinatura, em meio ao respeito e ao carinho entre eles, vi o amor. E foi assim que ele bateu na minha porta pela primeira vez no dia.

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Chamamos o próximo paciente, eis que entra um casal no consultório. Eu estava dividindo uma sala de atendimento com um amigo, e esse era um paciente para ele. Porém, quem disse que entre a consulta eu não notaria o carinho da esposa pelo marido? Assim que chamamos ele na porta, observei que ele estava com algo como uma meia no pé, que na verdade era uma sapatilha, que ela havia costurado para que ele não fosse com o pé machucado descalço. Descobri que na última consulta, ela trouxe água de coco para o seu companheiro. E foi assim, notando em pequenos gestos, notando que apesar de todo os anos que já estavam juntos, o respeito e tudo que eu tinha visto no outro casal. E foi assim que o amor bateu na minha porta, mais uma vez.

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