Além dos muros verdes

Do lado de fora não parecia um puteiro. Um muro comum pintado de verde claro com a caixa dos Correios num tom mais escuro, por cima telhas coloniais envernizadas. A casa tinha dois andares e muitas janelas, denunciando a presença de vários quartos. Uma senhora com cara de vovozinha que conta historias de Chapeuzinho Vermelho estava no retrato da parede, era a proprietária. Quando os policiais chegaram, ela não estava, segundo Gi uma vesga com vestido curto e tatuagem de coração na coxa esquerda, visivelmente embriagada, que abriu a porta. Há dois cinco dias a patroa viajara para fazer compras eróticas em São Paulo.

— Qual o seu nome? – Interrogou o policial.

— Gi! – Falou a moça acendendo um cigarro.

— Gi de quê?

— Gi de Gi!

— No seu documento só tem isso?

— Não, lá tem Girdélia, mas eu não gosto!

— Quero ver sua identidade!

— Ta tudo na bolsa da Mãe Véia!

— Quem é a mãe véia?

— É a patroa, dona da casa!

— Quem chamou a policia?

— Foi o cliente da Melissa!

— E cadê ele?

— Ah, já deve ta morto!

— Morto?! Morto como?

— Ele tava fazendo sexo com Melissa quando o marido dela chegou com um revolver, correu, escondeu no banheiro e ligou pra vocês, gritou por socorro, mas o homem arrombou a porta, depois eu ouvi barulho de tiros e gritos!

— Mas a prostituta é casada?

— Melissa não é prostituta! Ela trabalha na loja de Celular e tem um caso com o cliente da loja. Toda quarta na hora do almoço os dois vem aqui!

— Soldado peça reforço e isole a área! – Ordenou o comandante.

— Aonde é que está o corpo?

— Continua no mesmo lugar!

— Vamos lá rápido, mostre onde fica!

— Eu não posso! Mãe Véia disse que na ausência dela é Bebel que manda!

— Quem é Bebel?

— É o viadinho que veste roupa de mulher!

— Então vá chamá-lo!

— Não posso, ele está escondido!

— Ah é? Escondido por quê?

— Porque ele tem medo de ir preso! – Falou virando o copo de bebida que estava na mão.

— E porque é que ele tem medo de ir preso hem?

— Ele passou na televisão roubando um taxista!

— E onde ele está escondido?

— Não posso falar!

— Não pode falar? Soldado mete o grampo nela e joga na viatura, vamos ver na delegacia se ela não fala!

— Não, não pelo amor de Deus, ele falou que se alguém abrisse a boca ele mataria!

— Não vou perguntar de novo! Onde é que o veado está escondido? – Bradou o policial com o dedo na cara da mulher.

— Esta na casa de Ramiro, um Boliviano taxista que mora na rua de baixo!

— Ele assaltou um taxista e foi se esconder na casa de um taxista? Quê isso, taxista armando pra taxista?

— É o mesmo taxista que ele assaltou! Eles são namorados e Bebel estava devendo drogas para uma traficante, pegou o dinheiro pra pagar a divida!

— Então não há crime! Se ele furtou, mas foi perdoado, vamos lá para o caso do morto pelo corno!

— É... Só que Bebel e o taxista namorado dele mataram a traficante para tomar o dinheiro!

— Caralho, que novelo que não desenrola, que maluquice é essa mulher! Para de beber essa porra e fala direito! Quem é a traficante que o veado matou com o taxista? Não tivemos noticia.

— É a Mãe-Véia!

— Aquela velha ali do retrato? A dona do puteiro?!

— É! – Respondeu a mulher virando para os lados.

— O corpo dela está enterrado no jardim!

— Copom, Copom, solicito mais reforço, repito Copom, preciso de mais reforço! – Falou o policial claramente nervoso.

Após a chegada dos reforços um grupo vai em direção ao jardim e outro rumo ao banheiro. Horas depois, o corpo da velha é exumado e colocado na gaveta do Rabecão. No banheiro estava o cadáver de um homem com aproximadamente quarenta anos, vestindo terno e varias marcas de tiros pelo corpo.

— Coitado, até cagou na roupa! – Observou Gi, ao retirarem ele da posição.

— Então cidadã, tem mais alguma coisa pra nos contar?

— Tem sim! – Disse em tom moderado e voz trepidante, olhando para a escada.

— Então diga! – Murmurou o policial com resguardo.

— O marido de Melissa matou ela e depois se matou!