o ser humano é uma máquina extraordinária com outonos no peito
Ainda bem que eu tenho amigos porque assumo que às vezes sou carente e são eles, que de muitas formas, mantém a minha sanidade. Sem considerar, é claro, que estar sã pode ser uma grande loucura.
E que gosto de feedbacks.
Eu também assumo que apesar de ser a favor dos objetos técnicos, em alguns momentos eu quero amigos que me toquem. Eu sempre busco um equilíbrio sobre tudo, até quando resolvo jantar pizza e fazer uma hora de corrida no dia seguinte ou quando aviso minha família que estou de mau humor e peço que voltem amanhã. Voltem a me amar amanhã! Mas vamos ao assunto porque a pessoa começa aqui na cadeira e termina colhendo inhame nepalês em alguma montanha do Himalaia.
Pois bem, sou adepta à tecnologia, mas nos dias que em meu peito faz outono preciso dos amigos perto de verdade para fazê-lo primavera de novo. E é tão bom. É bom também quando são eles que me querem por perto e me envaideço com a fama de bom abraço. Abraço, essa coisa tão genuína.
Não. Eu não estou carente. Precisando dos meus amigos? Sempre. Mas eu ando pensando na hostilidade do mundo e na incapacidade que tenho tido em abraça-lo. Acho que a facilidade da comunicação instantânea e do anonimato tem dado uma liberdade estranha para as pessoas, e liberdade nem é uma palavra que deveria vir acompanhada de “estranha”. Eu tenho medo de quem fala pelos cantos, de quem só usa termos técnicos, de quem vive se autoproclamando do bem e de mesóclises. Eu tenho medo de gente fria. Sem considerar, é claro, que às vezes sou fria também.
Não me cabe dividir culpas, mas talvez caiba lembrar que o ser humano é uma máquina extraordinária, que ouvir uma voz humana é de uma tecnologia incrível e renovadora. E que talvez, só estejamos perdidos com tanta informação. Ainda bem que eu tenho amigos. Ainda bem que existe abraço.
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*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.
Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)