Despertar

Ele despertava, dia após dia, com o simples intuito de continuar existindo, de seguir um caminho que já sabia o final, final que se aproximava, tendo o cansaço como tônica em sua respiração, clamando por uma saída que desse fim à solidão de sua alma, que, corrompida pela amargura, pairava na beira do abismo.

Incontáveis vezes estivera apenas com um pé nesse precipício, porém, sempre recuara, acabava por sentir medo de algo, temia ser solitário na inexistência, ser solitário em seu peito.

Não sabia como seguir adiante, o vazio que abraçava seu coração não era do tipo que o faria ver a vida como uma matriz de potências gerenciadas por sensações e experiências que o fazem ser quem é, afinal, quem és tu? Seus olhos negligenciando a luz do dia preferiam se fechar para conseguir destoar-se de um mundo preto e branco, sem cor, sem vida. Na escuridão provida de suas pálpebras, era possível, em contraste com a realidade, encontrar uma luz cegante, quente, que faria, mesmo de forma tímida, com que seu coração cheio de amargura batesse.

Então o relógio tocava, o chá estava na xícara, a gravata era colocada no pescoço, a cama seguia em desordem, e mais um dia começava, a boca marcada por rachaduras devido ao frio buscava calor na bebida, seria este o calor que o faria viver? Mas, o que é viver? Estaria vivendo a sua vida, ou a dos outros?

Procurava respostas, contudo, suas respostas geravam dúvidas, mas ele não tinha tempo, levantava-se e saía, querendo encontrar o motivo que o fizera levantar, buscando a tão famosa, felicidade.

Kind
Enviado por Kind em 08/04/2018
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