Bolsonaro, para quê?

Ainda não consigo entender como alguém pode projetar na figura do Bolsonaro um salvador da pátria, uma figura messiânica.

Há três/quatro anos sequer se falava desse embuste como opção para assumir um cargo majoritário no país. Então, por qual razão, repentinamente, se erigiu essa figura como representante dos anseios mais recônditos da população?

Será se é por que ele fala por falar, por que sabe polemizar, dizer aquilo que a “maioria” gostaria de dizer, mas as convenções sociais e a opinião pública (ou de amigos) iriam recriminar? Suas falas negativas sobre homossexuais, minorias e mulheres são recorrentes no discurso tácito, na fala interior da classe dominante ou mesmo no pensamento silencioso e discriminatório de muitos que se escondem na égide do bom cidadão. Mas ouvindo alguém proferir um discurso tão carregado, acabam por criar uma áurea de consentimento: “é isso que eu penso!”.

Segundo, porque ele se apoia numa imagem nacionalista, daquele que ama sua pátria e almeja a melhor forma de assegurar os direitos do sujeito político, principalmente no que tange a segurança. Tocar num grande sentimento de impotência e impunidade referente à fragilidade do cidadão ante a violência urbana é estratégia garantida de identificação. O que o povo quer além de educação, trabalho e lazer? Segurança. Se o Estado não é capaz de garantir esse direito, então que ao menos lhe dê a opção de estar armado para se defender e não permitir que um bandido lhe ameace a vida... Quem não sente ódio de ladrão vagabundo? Então por que não apoiar alguém que dê a possibilidade de nos vingar, de reagir, de enfrentar aquele que só deseja nosso mal?

Outro ponto é a fixação em ideais conservadores. Aqui há uma incongruência. Ser conservador é assumir que a tradição (valores éticos, valores familiares, valores religiosos) é fundamental para descobrir e aceitar a própria identidade nacional. Mas sabemos que a postura conservadora tem suas origens desde as primeiras incursões da elite estrangeira portuguesa pelo nosso território, culminando, no século XIX com a formação de partidos políticos conservadores que lutavam contra a influência do ideal liberal (Estado liberal) na nascente na colônia. Então, nada mais é do que uma tentativa de subordinar a vontade geral e seus princípios (igualdade, liberdade, participação política) aos que realmente devem estar no âmbito mais elevado da estrutura social, ou seja, os descendentes reais, a aristocracia. Ser conservador no Brasil atual, com a constituição pautada em princípios para além dos atos arbitrários da antiga monarquia, é uma abominação anacrônica. Não há valores estritamente brasileiros que assegurem uma postura conservadora!

Os eleitores do Bolsonaro são aqueles que antes eram apenas indiferentes políticos, que nada fizeram durante o mensalão do PT e que, devido todo o alarde do movimento do MBL – assim como toda a mídia e redes sociais nascentes (Facebook, Twitter) tornando público escândalos da corrupção – estão tentando se posicionar nessa conjuntura atual. Como somente no governo petista as informações passaram a ser veiculadas e compartilhadas de forma instantânea – uma coincidência com o avanço da internet; não lembro na era do Orkut ver tais informações serem tão recorrentes – todo o rancor e ranço contra os gestores e representantes se concentraram justamente naqueles que ali pareciam estar no poder. E os "petralhas" realmente estavam no poder e participavam de falcatruas. O problema é achar que a corrupção foi inaugurada nesse governo devido à publicidade e imediatez das notícias.

Por fim, os eleitores do Bolsonaro são também aqueles que nada entendem de direitos fundamentais, constituição, política e ÉTICA (ou filosofia moral). Gostam na verdade de se aparecer por estarem posicionados num lado que ganha cada vez mais holofotes e que causa mal estar nos demais, como se fosse apenas uma brincadeira, um bullying de longo alcance. Todavia, se realmente acreditam na figura messiânica do ator em questão, então precisamos nos preparar para uma grande batalha de rua entre grupos sociais politizados na próxima eleição.

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 10/04/2018
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