Cursinho - metodologia questionável.

Estava com trinta e três anos quando me matriculei no curso vestibular, o chamado " cursinho". Já estava casado e tinha filhos, mas queria melhorar de vida, e tinha energia.

O meu ônibus me deixava em Pinheiros , eu morava na Vila Sônia, então me matriculei no "Objetivo", seria mais fácil voltar para casa.

Me lembro que era um curso pesado para quem havia trabalhado em uma fábrica o dia todo, a velocidade das aulas impressionava, queriam preparar a todos ao mesmo tempo , uma quantidade absurda de alunos em cada sala. Os professores faziam questão de se misturar no intervalo, sempre rodeados de alunos falantes durante o café. Em classe , cantavam musiquinhas com letras divertidas para guardarmos a matéria, e quando falavam com um microfone nas mãos, pareciam um "show man". Apesar da boa didática, o imediatismo não era para mim, aquilo tudo me deixava aflito, não absorvia quase nada, então cancelei tudo em três meses.

Sempre fui um aluno dedicado, e sei que aprendo bem quando me dedico, e força de vontade nunca me faltou mas aquela metodologia não se casava com o que entendo como aprendizado, é coisa para molecada que não trabalha, não tem família para sustentar, nem contas para pagar, só faz aquilo.

Como queria muito prestar exame, e sabia que poderia em um ano estar preparado, criei uma disciplina na minha própria casa, onde havia uma lousa na garagem, que as crianças rabiscavam quando brincavam de escolinha. Uma mesinha no jardim de inverno, livros e apostilas do meu tempo de estudante, e fui estudando um pouco por dia, dosando o tempo de acordo com o meu cansaço. As dúvidas de exatas , eu tirava com o meu irmão quando nos víamos , ele era professor da matéria na USP, e sempre teve muito jeito para ensinar.

Fui muito bem nos exames, passei com ótimas notas , fui o décimo sexto colocado em Letras , na Metodista, e quadragésimo quinto em Administração. O meu curso "Objetivo" foi o meu próprio "objetivo", e hoje , tanto tempo depois , vejo que quase nada se modificou, a metodologia gananciosa de colocar oitenta criaturas em uma sala, ainda continua sendo usada.

Sou favorável a classes pequenas, de no máximo vinte alunos, e ao sistema de "aulas invertidas", que são as que os alunos se dispõem em carteiras reunidas em grupos, ou mesas com quatro ou cinco, onde se discutem a matéria dada, extraindo todos os elementos do aprendizado. O professor serve como orientador, tirando as dúvidas , e vez por outra explanando os pontos principais dando a dinâmica à classe.

Este sistema é muito antigo, na década de sessenta se chamava " Estudo Dirigido", e nos anos setenta e oitenta " Dinâmica de Grupo", mas praticamente só mudou o nome para " Aulas Invertidas". Elas podem ser usadas eventualmente o que aproxima muito os alunos entre si, e com o mestre, além dos resultados, que são eficientes. Só é preciso evitar os chamados "feudos", o correto é misturar os elementos de cada grupo a cada dinâmica.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 24/04/2018
Reeditado em 24/04/2018
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