Ela

Era sábado, mas pela escuridão do quarto, mais parecia um domingo, não, com a tristeza que me rodeava com certeza era domingo, conquanto, ainda era sábado.

Me lembrei que hoje era um dia importante para nós, precisava te contar algo, porém, não possuía forças, ajoelhei e abracei a nossa foto, você se lembra de quando a tiramos? Estávamos bêbados, mas é de se entender, o sorriso com que aparecemos nela é impossível de se dar sóbrio.

Me arrumava quando ouvi sua ligação, nem te deixei terminar, fui logo ao seu encontro, cheguei ofegante, você me olhava, eu te olhava, sabia que estava chorando, senti um leve chute em minha barriga, entretanto, não tirava meu olhar dos seus olhos castanhos claros, me perdi tantas vezes neles que o achava um labirinto que me impedia de chegar na realidade, só que eu não me importava em viver nesse lugar, pois de algum jeito, eu sempre encontrava um caminho que chegava nos seus lábios, e aquela era a única realidade que eu precisava.

Saímos então, você apertou minha mão, você tinha prometido nunca soltá-la, lembra? Não se preocupe, a distância é só um detalhe, ainda consigo sentir o calor dos seus dedos, isso me basta.

Fomos para a sorveteria, sabia que você iria pegar o meu sabor preferido, não me lembrava do seu, você pedia um sabor que tinha no sorvete de napolitano, estava confusa, mas quando peguei o sorvete de creme e te vi sorrindo, soube que acertei, outro leve chute me acertou, nessa hora, quase chorei.

Acabamos indo para a praça, você me mostrou as crianças que estavam lá, comecei a contar a história que você já tinha ouvido mil vezes, mas do mesmo modo que fizera na primeira vez, fizera na milésima, sorria de forma tão sincera, precisei dizer que te amava, pois a sinceridade que exala de ti me faz virar criança de novo, e o meu amor por você, como o de uma criança, é puro.

Prometera que teríamos dois filhos e que viajaríamos, tudo bem, você já me levou ao lugar mais incrível, o seu coração, ele tem tantas estradas, todas possuem o mesmo caminho, chegamos sempre no topo, lá é possível ver as estrelas, enquanto as olhamos eu te abraço, você sempre esquece, se eu tenho você, já é a melhor viagem de todas.

Fomos para casa assistir um filme, com certeza seria romance, nós amamos, acabei chorando, você deve ter pensado que fora por conta do filme, se enganara, foi por saber que amanhã não sentiria o seu calor, e principalmente, por saber que você nunca sentiria o calor que estava presente em minha barriga, me perdoe por não contar, não tenho forças.

Você se arrumava, eu chorava, dissera que nunca me faria chorar, mas não foi sua culpa, quem me fizera chorar acabou sendo a vida, ela quer te tirar de mim, o nosso amor a incomodou, porquê ela não deixou nosso sorriso perdurar para todo o sempre? Ainda não entendo.

Partimos para um lugar em que eu voltaria um dia, de forma mais precisa, oito meses depois estaria em uma sala próxima daquela que você entrou e nunca mais voltou. Quando chegamos nos abraçamos, nos beijamos, você sentou em uma cadeira e se foi, comecei a gritar, queria que ficasse, mas você se foi, para nunca mais voltar, eu ainda te amo, mas não peça perdão, seu calor ainda continua em meu ventre, passarei para ele algo que você me ensinou, mesmo no momento mais horrível, sorria, pois o último momento em que estamos juntos da pessoa que amamos sempre será o melhor, sempre será nosso, isso nem a vida pode tirar.