O comércio da minha infância.

Me lembro dos tipos de comércio que haviam na minha infância, nos anos sessenta. A começar bem lá atrás, quando eu tinha meus seis ou sete anos, ainda na Espanha, e ia com a minha mãe buscar carvão na carvoaria , pois o fogão da minha avó era à lenha, como tantos outros da pequena cidade. O azeite era comprado à granel, onde o comerciante o sugava do tonel com uma alavanca , enchendo o litro que levávamos, o leite era trazido dos sítios por mulas, e o comprávamos nas leiterias, onde também levávamos o nosso recipiente.

Haviam alfaiates e costureiras, as pessoas faziam as suas vestes na maioria das vezes, comprando as peças de tecidos e copiando os modelos das revistas de moda. Haviam também quitandas, e papelarias , botecos com gente bebendo cachaça, e empórios de secos e molhados, com muitos produtos à granel, como : arroz, feijão, lentilhas, café (moído na hora), pão em "filão", bolachas pesadas na hora, e até chocolates chegamos a comprar por onça (unidade de medida ,+- 30g).

Os pescados no mercado, e as velhas feiras livres que ajudavam demais a vida das pessoas. Na minha rua havia uma, e não nos importunávamos com isso, até esquecia que existia feira, tudo parecia normal.

Supermercados , sabíamos que existiam em alguma parte centralizada, mas eram inatingíveis, e só no centro da cidade é que víamos as lojas de departamentos, onde íamos em casos extremos. Me lembro da primeira vez que vi uma TV, foi em uma vitrina , ela estava ligada, e fiquei admirado, eu só tinha sete anos. Passou a ser um sonho de consumo, era pura magia.

Pelas ruas passavam garrafeiros, comprando os litros vazios, de vinagre , cloro e coisas assim, também os amoladores de facas e tesouras, com aquelas flautinhas Pan, que nos encantavam (até hoje tem), às vezes passavam carroças de verduras puxadas a cavalo ou burro, e os verdureiros usavam o "fiel" da balança, equilibrando os pratos.

Na porta de casa se compravam muitas quinquilharias também, além de enciclopédias, vasos de plantas e dos mais variados produtos para a casa, nem ouvíamos falar em notas fiscais, isso era para gente de outro mundo, talvez planeta. A primeira vez que falaram de notas fiscais eu estava no Grupo Escolar, e veio uma pessoa explanar o assunto para as crianças, de uma forma bem didática (claro), e depois fizemos uma redação à respeito, onde fui premiado, provocando a ira das alunas melhores. " Onde se viu um menino como eu escrever melhor ? ", Isso parecia impossível, ainda mais que eu só queria saber de brincar e correr atrás da bola. A redação foi para a Secretaria da Educação, nem eu imaginava saber tanto de notas fiscais aos dez anos (?), rsrsss...

Apenas boas lembranças !

Obs : O que me inspirou foi uma crônica que li hoje " Relembrar", da colega Rosa Alves , acho que foi a primeira que ela fez- ( Obrigado ).

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 02/05/2018
Reeditado em 02/05/2018
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