Olhe ao redor

Levanto cedo e saio toda importante me sentindo um rara madrugadora, a caminho do supermercado. Menos filas, menos transito e o ar puro da manhã. Ando uma quadra e por mim passa a moça de bike, pedalando com dificuldade pelo peso da geladeira de isopor, cheia de lanches que irá vender aos feirantes que saíram de casa horas atrás. Penso no quanto mais cedo ela não se levantou para fazer os lanches e salgadinhos, mais o suco que leva balançando no guidão da bicicleta. Mais uma quadra e passo em frente ao Hospital, com as enfermeiras do turno da noite saindo, cansadas e com cabeça cheia do aborrecimento de ver crianças doentes e outros terminais, sem que nada possam fazer. Saem em silêncio, sem conversar embora estejam juntas.

Enquanto eu dormia essa gente trabalhava duro, e eu me achando.... Enquanto minha preocupação era uma filinha no caixa, elas davam tudo o que tinham para tirar seu sustento e amenizar a vida de outras pessoas.

Minha mãe dizia: se você se acha o máximo olhe ao redor. Se você se acha a pessoa mais sofrida no planeta, olhe ao redor. Tal como São Dimas no Gólgota.

(Republicação de 2012)

Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 07/05/2018
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