Idiossincrasias

Levanta a questão o Luizão: será que não há ninguém sem alguma neurose? Quer apenas brincar com a recorrência de atitudes impensadas de outros companheiros, mas larga uma pulga bem atrás da minha orelha. Tenho isso? Talvez a pergunta nem seja essa, mas... Quais são as minhas neuroses?

Tecnicamente neurose é um termo em desuso já que os sintomas e quadros de transtornos mentais foram melhor categorizados, restringindo a terminologia. O que antigamente se tratava como neurose são os quadros conhecidos hoje como depressão, transtornos ansiosos e TOC. Permanece a concepção popular pejorativa para tratar os desequilíbrios e bizarrices de uns, o comportamento exagerado ou dramático de outros. E é bem nesse sentido que ele usa o termo.

Passo a observar isso nas pessoas com quem convivo, e começo a endossar o raciocínio do meu amigo. Será que não há ninguém sem alguma neurose? E de tanto prestar atenção na coisa concluo que será, caso haja, um ser humano raríssimo. Esse meu referido amigo, por exemplo, tem aversão a papel, digitaliza tudo o que precisa arquivar. Já eu, meio tecnofóbico, apaixonado pelos livros velhos e documentos antigos, costumo imprimir o que me chega por via digital, contudo, dividimos angústias e aflições no campo profissional sem qualquer conflito, ao contrário, nos complementamos com nossas idiossincrasias. Eu cuido do arquivo físico e ele daquele outro lá o dele.

Acho que, por conta mesmo de uma percepção seletiva, coisas que atiçam nossas neuroses nos perseguem extraordinariamente. Acho muito repulsivo o ato de “tirar ouro do nariz”, como diria Lobato, e pra todo lado que olho tem sempre alguém com os dedos enfiados nas ventas. Não há como fugir. Os narizes se avolumam e se multiplicam na minha mente. Sinto-me personagem de um conto de Loyola Brandão. Dia desses, manhã de domingo, eu caminhava para a padaria e não pude fugir da visão de uma senhora que seguia à minha frente entretida no exercício da garimpagem nasal, quando chego ao meu destino lá está ela se servindo de pão no expositor. Confesso que a caminhada de cinco quarteirões pela rua da feira até a outra padaria não foi de todo desagradável.

Provo aqui que trazer à reflexão comentários aparentemente sem importância é mais uma de minhas neuroses. O assunto fica rondando a minha cabeça por dias e, como está ali, como que vai criando um poderoso campo gravitacional, alimentado por outros elementos, atraindo para si novos aspectos antes irrefletidos. Vai se avultando, tomando corpo, adquirindo forma, até explodir num comentário inesperado como este texto que, talvez não esteja mais claro por não haver atingido a maturação necessária. Colhido assim meio de vez, pela força da necessidade de preencher uma coluna em tempo de fechamento de edição.

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 11/05/2018
Reeditado em 11/05/2018
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