Medo de amar?

Eu sofri um acidente uma vez. Durante um Downhill de bicicleta em uma trilha no monte Makara, na Nova Zelândia. O fato é que a porrada foi tão séria que nos três dias seguintes eu tive febres, mal movimentei meu corpo e senti que minha clavícula nunca mais foi a mesma. Hoje eu carrego uma enorme diferença no meu lado esquerdo. Até hoje, quando a temperatura varia, eu sinto tudo.

Dois meses depois quando fui voltar com as atividades de Mountain Bike, antes de descer pelo topo de outro morro em Wellington, eu hesitei. Pensei duas vezes. Inconscientemente, traumas acontecem para nos proteger do perigo aparente. E mesmo que eu comandasse meu corpo a seguir em frente com o pedal, minhas pernas não responderam por cerca de cinco segundos.

Tal como nosso corpo, nossa alma também carrega traumas. E talvez uma das maiores proteções que nós criamos seja o medo de amar.

Vamos ser sinceros aqui. Tudo o que a maioria de nós quer é um amor correspondido. É saber que a pessoa está lá, sentindo o mesmo que você. Muitos dizem que não querem isto, mas a pura verdade é simplesmente por conta das desilusões anteriores. Talvez você simplesmente não aceite ninguém entrar de verdade na sua vida. Ou se sente bem com um relacionamento aberto pelo simples fato de que não precisa ficar preocupado se a pessoa vai dar atenção para outras sem que você o saiba. Ou então resolve causar a mesma dor que um dia causaram em você. A grande verdade, é que temos traumas. E tal como meu acidente de bicicleta, eu apenas descobri este quando estava “ao topo do morro” novamente.

Eu nunca fui controlador ou ciumento. Eu nunca fiquei desconfiado achando que estava ouvindo mentiras ou achando que a mágica um dia acabaria. Nunca me senti menos que todos os caras na face da terra durante uma relação. E mesmo que eu tentasse não agir desta maneira, minhas ações não respondiam conforme eu queria – Igual ao meu pé na bicicleta no topo do monte.

Se sofri “acidentes” que geraram sequelas nesta área? Incontáveis. Ou dei confiança demais, ou acreditei na pessoa demais, ou confiei em mim demais ou simplesmente cuidei de menos.

Com a bicicleta foi simples de resolver. Existe uma coisa chamada freio, outra chamada pé no chão e por fim equilíbrio. Isto cria um controle de velocidade. E foi assim que eu retomei meu Downhill. Rápido, mas não como antes. Atento aos detalhes e apreciando mais a paisagem do que correndo ao chão. O problema é que para a paixão não existe freio, relacionamento dificilmente existe freio. Ele acontece, ele avança sem você perceber, ele acelera vertiginosamente. Ou você o acompanha ou ele vai embora sem você.

Para isto, meu amigo, não há saída. Você desce da bicicleta e fica se perguntando como teria sido desafiar aquele morro pelo resto de sua vida, ou se aventura em mais um possível acidente. Tudo vai depender de quanto você é capaz de ignorar seus traumas e utilizar toda a sua habilidade no momento presente, sem hesitar.

Boa sorte! Eu ainda não encontrei uma maneira.

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 14/05/2018
Reeditado em 14/05/2018
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